9 de fevereiro de 2011

Tudo não passa de rascunho

Vamos recorrer a dinâmica do dia que nos diz receber uma folha em branco a cada dia. Vamos delinear os nossos passos, o pouco de história que nos propomos escrever.
Tudo parece tão mesquinho quando se nota que tudo não passa de rascunho, pois a cada virar de página não podemos escrever atrás da mesma folha. Nos é dado uma folha nova, sem mesmo perguntar se concluímos o que começamos ontem. A coisa se descontrói pois não recordamos em que ponto paramos, tudo se desfaz.
Os sonhos de ontem, se tornam babaquices no que entendemos agora. Projetos inabitáveis a realizações humanas; os poemas transcritos outrora, passam a ser lidos com um gosto bem mais amargo do que era antes, a desilusão penetra no âmago.
E em falar em desilusão, tudo isso não passa de estranhamentos e insatisfações.
Se de fato recebo hoje, a tal folha em branco, escrevo apenas o meu sofisticado nome no alto. Enquanto a incerteza habitar os meus desejos, prefiro poupar-me a rabiscar alguma coisa. Refino as incoerências e não toco em parte alguma. Não desejo ter que reescrever mais um de meus temperamentos amanhã.
A mudança é um fato ideológico que acontece, mas nem sempre ela anda em harmonia com os desejos de nossas vontades.
Os momentos são rascunhos a parte. O que sou é além distante disso. Quero levantar e perceber que posso continuar escrevendo no mesmo papel já manchado pela tinha velha de ontem. Quero ter o direito de usar o verso, o avesso.
E o último desejo é aquele que ninguém tente jogar os meus rascunhos no lixo. Eu sou o portador do meu livro, das minhas páginas. Se alguém tem que fazer isso, que seja eu.

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