19 de março de 2011

Fios de Histórias VII

O jardineiro, a flor e a metáfora

Já não era dia, mas ainda datava sexta-feira, e o jardineiro continuava a cuidar fielmente do jardim de Beatriz, talvez ele ainda estivesse ali pelo fato de naquele período, os horários não eram os de fatos sucumbidos ao espaço do tempo.
Rafael, o jovem com experiência tamanha em adornar jardins, aprendera o ofício com seu pai ainda quando pequeno, por isso carregava em si grande aptidão com o que a natureza propunha a oferecer aos olhos de homens e mulheres que buscassem um jeito novo de contemplar a vida.
Beatriz era jovem e carregava consigo a beleza ímpar de um princesa desses novos contos de fada. Rafael era belo, inspirando em si, a perfeição de um amontoado de flores bem cuidados. Eram as diferenças encontradas sobre um mesmo espaço recortado pela imaginação de cada um.
O momento era favorável a uma prosa entre os jovens que demonstravam apresso imenso um pelo outro, devendo-se levar em consideração que já se conheciam desde pequenos. Sendo os seus pais, velhos amigos dos tempos de mocidade. Estavam acostumados a estar em alguns momentos juntos, mas nunca tão próximos, pois suas vidas tiveram rumos e situações diferentes daquelas sonhadas quando ainda brincavam e sonhavam apenas em mudar o mundo.
Beatriz demonstrava certo contentamento em ver Rafael ali, talvez trouxesse para fora de si esperanças, sonhos, desejos ou sabe-se lá o que. Mas talvez aqueles encontros, quase que mensais lembrassem a ela de quem era de verdade. A jovem perderá os pais em um acidente de návia que partia rumo a uma expedição missionária em meio a África, e como ela ainda era muito jovem, ficou sob os cuidados de sua avó, vindo a falecer alguns anos depois. Talvez a senhora só tenha esperado Beatriz crescer para poder partir também.
O jardineiro, era uns dois anos mais velho que Beatriz. Era quase um adulto, mas parecia um menino quando estava entre as flores. Morava com a mãe. Seu pai, morreu em meio a uma batalha travada na capital de sua cidade. Deixou para o filho, a esperança de poder encontrar nas flores, o elixir de uma vida justa, regada e harmoniosa. Plantou dentro dele, mesmo com as ausências, afetos sólidos e construtivos. Tornou o menino em um homem, dando-lhe espaços para os sonhos e medos. Abrindo as portas para o mundo mas também o trancando quando devaneios passavam e poderiam raptar a dignidade do menino homem Rafael.
Ao encontro dos dois na varanda, ouviu-se bem ao fundo, a trilha sonora que embalou a época dos dois jovens, que foram marido e mulher em suas épocas de brincadeiras. Era uma letra de beleza sem igual que dizia: “O amor é real, realidade é o amor / O amor é sentir, sentindo amor / Amar é querer ser amado¹...” Mas antes que as emoções começassem a aflorar a pele, apareceu-lhes entre ele a metáfora. Algo como a terceira pessoa do singular, não deixando espaço para que Beatriz e Rafael vivessem o que a tempos começaram, mas que nunca conseguiram consumar. E restou a metáfora amar o seu progenitor jardineiro. E a Beatriz, a metáfora também amou. Se sabe apenas que esse amor existe, mas quem alguém terá que ceder seu espaço para que a flor possa florir.

¹Love – John Lennon

2 comentários:

Macaco Pipi disse...

a sequencia tá boa!!

Barbara Nonato disse...

Não conheço toda a história, mas a forma de escrita é envolvente e o tema pertinente e interessante.