18 de agosto de 2011

Tão imprestável

Já pensou quantas vezes imaginou o quanto não presto? O quanto cada coisa que faço não tem nenhum valor e tudo o que eu gosto não faz nenhum sentido? Já parou para pensar que sou uma merda diante da sociedade? Mais um problema social ou vítima de um sistema burocrático qualquer? Claro que eu não presto. Tenho consciência disso. Se eu tivesse algum valor, no final eu não teria que ser enfiado terra adentro. Meus amigos? Não prestam, assim como não prestam as cartas redigidas, os poemas lidos, os romances vividos. Nada além de tudo presta e tem algum valor. Tenho essa consciência do pouco valor que tenho, pois a cada dia que acordo olho no espelho e meus poros estão obstruídos e por causa disso, vai apodrecendo com o excesso de oleosidade. Meu corpo não me presta a não ser para as marcas do tempo, que comprovam nossa total indelicadeza com as coisas de verdadeiro valor.

Digo mais. Retorno. Faço o uso dos contrários e atesto mais que eu não prestar: você não presta. As suas coisas não têm valor nenhum para ninguém. Suas lágrimas são apenas suas lágrimas e ninguém de fato está se compadecendo dela. Acredite. Nada em você presta e mesmo assim, julga com toda a certeza do mundo os lados negros dos outros. Mais que o outro que não tem significância nenhum, você não presta muitas vezes mais. Pois julga já a fragilidade do outro que de certo modo sobra em você.
Os seus erros não são nem um pouco menor ao dos outros. Se fede ali, em cima de você também há de existir abutres atrás de carnes podres e não adianta fugir, sempre existirá em algum lugar, qualquer que seja ele, gente de olho em você e provando que tudo é desprezível em seus passos e gestos. Que cada gota de sangue sua no fundo vai parar de circular por teu corpo e fazer-te uma paralisia estática e sem grande funcionabilidade.

Se eu não presto? Digo que está certo. Não discuto. Não rio. Não nada. Só aceno com a cabeça e peço passagem. Meu silêncio é a coisa mais lamentável que se pode esperar dos meus gritos. Em pensamento, velo a total depreciação que sinto. Prefiro guardar os gritos aos ventos do perder a oportunidade de esfregar na sua alma a insignificância que te presenteio com meu ser!

Um comentário:

Anônimo disse...

Sério, adorei seu texto, este. Tem muita emoção, parece um desabafo.
http://lollyoliver.wordpress.com/