7 de janeiro de 2012

Quem sou eu?

Sentado, a frente de um computador, pensando se estaria cometendo ou não um crime. Olhei para o deposito de canetas e no lugar onde deveria estar papeis para anotações, deparei-me com uma singela figura minha. Uma fotografia, menos que o seu destino final. Pensei: quem sou eu? Seria apenas aquele “RG”, verde, tosco e com os dizeres “Federativos do Brasil”!

Ao fundo, a trilha sonora que ressoava “No More Tears” do Ozzy Osborne, que traduzindo ao pé da letra seria: “Sem mais lágrimas”... "Your mamma told you that you're not supposed to talk to strangers. Look in the mirror and tell me do you think your life's in danger, yeah..." ("Sua mamãe lhe disse que você não deveria falar com estranhos. Olhe no espelho e me diga se você acha que sua vida está em perigo, yeah...")! Alguma coisa, ao ouvir Ozzy, olhar aquela minha imagem refletida no papel verde e ainda pensando se seria crime ou não, estava me deixando, travando um embate dentro de mim. Foi silencioso, mas ouve uma guerra.

Olhar para a minha imagem foi desconcertante, pois não seria eu um estranho? Não seria perigoso ainda querer tentar ser alguma coisa, fosse ele o que fosse e como fosse e onde fosse? Aquela música tocou mais algumas vezes até eu decidir cometer, se assim quiserem chamar, de crime: baixei um dos livros mais vendidos naquele período. Um escrito chamado “Privataria Tucana”. Mas esse não é um aliado a minha literatura. Talvez venha e desconcerte o que acredito, mas a minha imagem ainda é a minha duvida. Minha mãe: o que ela diria de mim se eu não fosse filho dela? O que meus amigos diriam se eu não fosse querido por eles? E os conhecidos? O que eles podem estar escondendo sobre mim, de mim?

O que me faz sair da zona franca de minhas incoerências? Aliás: será que saio? Não sei se me movo para frente ou para trás ou se ainda permanece parado, como aquele documento, sem vida, cheio de coisas escritas, minhas particularidades expostas em um pedaço de papel governamental, federal... O que me faz ser? Seria aquilo que o mundo quer que eu seja? E aquela de personalidade, de pluralismo? Não seria tudo tão igual? Sinto estar vivendo os singulares. O que muda mesmo é apenas o endereço, o nome... O resto é tudo tão igual, tudo tão parecido. Diria Cazuza que vê o futuro repetir o passado. Viria Sócrates e aquele seu lindo aforismo de que sabe que nada sabe. E para concluir, um nietzschiano querendo revirar o baú e gritando em silêncio: e vós super-homem; o que tens feito para se sobrepujar.

Não seria a filosofia vã, a teologia mentirosa, a matemática enfadonha, a medicina uma alegoria, a geografia um arquipélago, a história uma invenção? Não seriam as coisas senão aquilo que queremos que fosse? E por que eu sou aquele garoto sem graça, preso a uma fotografia ‘3x4’? Por que tenho um número, um nome, uma nacionalidade? Não seria esse o acaso, um destino inevitável de sistemas falidos, que precisam dar nome a todas as falcatruas e nesse caso, essa falcatrua, particular e tão coletiva chamada a um nome que obedeço? A um número que respondo e a uma nacionalidade que tenho que honrar, bater no peito e defender? Não seria todo esse jogo moral, uma atitude imoral? Pois simplesmente, ninguém me perguntou se queria aquele nome, aquele número, aquela nacionalidade. Não é um questionamento sobre religião de que eu poderia ter nascido por uma razão. Mas a questão é física e disso, enquanto humano que penso ser e não satisfeito, irei questionar. Cabendo-me a cruz de minha vida, o derradeiro de minha inefável morte!

5 comentários:

Ana Paula disse...

Concordo com você, ninguém pergunta para gente se agente gosta do nosso nome, ou nacionalidade ou todos os nomes que a sociedade usa para nos identificar. Acho certo pensar que apenas eu posso identificar quem eu sou.

reinaldo del trejo disse...

Cara, adorei esse texto, você se manifesta de uma forma que faz com que eu me obrigue a desligar o som de minha banda preferida, que no caso é Nickelback para prestar atenção em suas palavras.
Belas e sábias.
Simplesmente muito bom.
Ok, deixando o puxa-saquismo de lado, vamos analisar o que você escreveu.
É FOda saber que vivemos em um mundo em que a todo instante, alguém quer nos limitar, seja por pais, religião, ou a puta que o pariu, mas em tudo que fazemos, eles vem e nos reprimem, e formam esse sistema de merda.
Vá procurar um emprego, e logo de cara, eles perguntam o que você deseja fazer, nesses tempos remotos, eu penso seriamente em mandar todo mundo tomar no olho do cú...
Eu quero aprender tudo que a empresa quer fazer caralho, puta merda, será que é difícil entender isso?
Mas não, vivemos em um porra dum mundo em que as pessoas tem que fazer as coisas mais limitadas do mundo, e essa merda nunca anda para frente.
Pessoas julgam as outras por anos de experiência, e não pelo que ela é.
Sim, o mundo nos julga por essa merda de foto 3 x 4 amassada e borracada, pois nosso mundo é podre.
E sabe o que pessoas de cabeça aberta tem que fazer?
Lutar cara, nunca deixar que pessoas que se afogam nesse comodismo apaguem nosso brilho no olhar, pois isso, ninguém vai tirar da gente cara.
Bora fuder com esse sistema de merda?

Grande Abraço e belo Post

Grainne disse...

ja dizia mesmo o cazuza que o futuro reflete o passado....realmente quem tem o poder de mudar isso? nós!

gostei mto do post parabens

seguindoo!
http://essenciapurpura.blogspot.com/

lenny disse...

curti mto td que escreveu somos rotulados e julgados ao ponto de perder a noção de quem somos de verdade não somos apenas um documento com nome nacionalidade e etc somos mto mais doque isso sendo diferentes e vindo ao mundo para fazer a diferença.

Marcela disse...

O texto é muito bom mesmo.
a "trilha sonora" então, perfeita!
As conclusões que você destaca em seu texto faz parte da maioria de nós, uma triste, mas real, constatação.

seguindo...

http://lapsosdeumamentebipolar.blogspot.com/2012/01/estou-sentindo-algo-sufocar-dentro-do.html