5 de janeiro de 2012

A vida

Eduardo e Henrique
Vi crianças brincando de pique-esconde, ouvi a contagem que foi até o cem. Lembrei que quando era criança, chegava ao máximo ao número trinta, talvez porque era até onde conseguíamos chegar, mas pode ser também porque não era tudo tão construídos. Todos aqueles espaços vazios que havia na redondeza, como terrenos baldios de minha geração, deram lugar a casa ou construções infinitas. Vi-me adulto, meio velho, mas ainda satisfeito por saber que a molecada ainda brinca na rua, corre, sorri da vida real.

Fui indo ao hospital, sem certezas, só de que muito em breve, a gestação da minha irmã mais nova se concluiria e que logo celebraríamos o nascimento de duas crianças. Pensando ainda se a geração dos nascituros conseguiria ainda pegar um resquício disso que chamo de infância.
Por volta das onze da noite, o médico anuncia que o parto será feito. Lágrimas brotaram dentro desse peito exaurido de razões humanas, deixei que partissem. Dei abertura às expectativas. A vida estava à beira do caminho, ia começar, barco a vela posto no grande oceano que é nossa existência.

Incrível como o nascimento nos coloca de frente de nós mesmos e nos faz visitar um amor, muitas vezes não correspondido, ou fracassado. Faz-nos ver que tudo pode ser diferente, nos faz sentir que vale a pena. Crianças carecem de cuidados adultos, mas e adultos? Carecem de cuidados de quem? Uma página em branco, sem marcas, rasuras e defeitos surge, daí também vem aquela de que se tivéssemos como voltar no tempo, faríamos tudo diferente, mas não podemos, temos que nos contentar em virar a página, rasgando algumas, mesmo que escondidas, mas tendo a consciência de que já fora escrito.

A vida é esse barco sem rumo, beirando o cais, abarcando os portos, sacudindo a nossa vida, retirando-nos da zona de conformidade. Parar é perigoso e correr é fatal. Temos que aprender a sentar no tempo e ir com ele. A vida é isso que acontece todo dia, mas no nascimento enxergamos além, de que muita coisa precisa ser revisitada, como se aquilo fosse à voz da humanidade gritando, chorando e pedindo por zelo.

Por todas as inconstâncias, vale o choro de criança nova. Pelos erros, a inocência surgida nos dá mais chances de acertos. Crianças sempre são bem vindas ao mundo, principalmente ao nosso universo paralelo. É como se abrisse as nossas portas e fizesse com que deixemos de lado toda a monotonia, toda a preguiça, falta de vergonha na cara de ir à luta. Sim, ao nascer, crianças encaram o mundo do lado de cá e na batida dos seus pequenos corações vai dizendo: vou à luta, vou à luta, vou à luta, vou à luta... E mesmo que surja descompasso, o ritmo que não importa, sempre fará lembrar que a vida é assim, para guerreiros e guerreiras. Quem não tem medo de viver! Assim, que possamos experimentar, junto com as crianças, a aventura que se é sair do recôncavo de super proteção e vir existir, ou melhor, viver... Que não sejamos pessoas que apenas “existe”, mas que a todo instante tomemos consciência de que “somos” seres humanos, cheios de defeitos e que vivemos. Existir por existir é para os fracos...



9 comentários:

Rabisco de unicórnio disse...

Você escreve belos textos !
e você mesmo que escreve ?
parabéns

Nath, disse...

Gostei.
Vê aqui:
http://seilaasvezesirrita.blogspot.com/2012/01/sobre-realidade.html ?

Bafonique disse...

sempre pensei dessa maneira.
quero viver muito e não apenas existir muito!!!

Anônimo disse...

Postagem maravilhosa! O nascimento de uma criança sempre traz o melhor de nós.
Beijos :)

Kika disse...

Belo texto Kleberson.
Adorei.

Tenha um dia iluminado.

Eu seu Lar

Fernanda Souza disse...

Belos textos Kleberson.
Deveria juntá-los em um livro hein?
Abraços
Leitora Incomum

Cuchila Blog disse...

hehe contar ate o 50 depis falar 100 ,101 e etc kkk
saudades da minha infância...

www.cuchila.blogspot.com

Elisa Cunha disse...

Crianças são tão espontâneas, tão cheias de vontade de viver, mesmo que tão protegidas... Quando adultas se preocupam tanto em como se proteger, que perdem boa parte de sua espontaneidade de quando crianças...

Crianças são adoráveis!

Ana Paula disse...

A vida das crianças sempre tem algo de especial... Gostei do post! :)