7 de julho de 2012

Flor da Pele

Fantasias de um louco amor

Às vezes não sei ou simplesmente tento acreditar, pensar que não sei do que se trata. Finjo parecer forte, racional, pois tantos foram os amores febris que me machucaram, assim sem dó nem piedade e nem porra nenhuma e por falar em porra, talvez esse seja o significado dos amores que me passaram, muito sexo, porra, noutro dia baforada de cigarro nessa minha cara de mistura de pão recém-feita, olhos remelentos, um adeus meio sem vergonha e todos eles, aqueles, eles que passaram por minha cama que liga, me dá um toque mais tarde. Alô? Alô? O telefone continua com aquela sonoridade mórbida que eu tanto tenho me acostumado, um tu constante, meio assim, tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, com tu-tu-tu-tu logo em breve. De vez em quando até toca, é cobrança, é proposta de novo cartão de crédito, é sempre uma puta que pariu mal fodida à noite e nem filho da puta que entre a noite e a madrugada, me abusou, me comeu, me gozou, gozamos. Sempre é a porra a me lembrar de mais uma desilusão. É um doce amargo, azedo, não sei bem a definição do gosto que aquilo tem, mas que pingado no lençol suado pelos nossos corpos a me dizer, chamar de babaca, idiota, daí mando para a lavanderia e perde-se o formato de seu corpo, músculos, tudo se perde, até minha esperança, seu suor, dando permissão ao perfume de amaciante barato, afeminado, doce, rosas? Não cravos cravados um a um entre seus dedos que essa noite não possuirei mais. E sempre vai, indo, se foi, se perdeu o par de botas, tênis, sapatos e chinelos de dedos. Você não volta, não rola em minha cama, não cai sobre mim.

Repeti, bem dentro de mim, tentando achar o meio, o centro, repeti diversas vezes que o amor, ah! que esse não existia, existe, existirá e eu fico ali, esperando pelo eco ressonante que me fizesse mesmo acreditar em tudo e que esse mesmo tudo não passava de apenas bocas, mãos quentes, respiração ofegante, suor excessivo, pelos, gozos, em cima, dentro, do lado de mim, dele, em mim e nele. Aí surgiam, vez em quando os educados, avisando, anunciando, fazendo-me saber que todo aquele esperma seria logo colocado para fora, sobre, dentro de mim. Meio faca me cortando a penetração, atingindo com o seu sêmen, minha parte mais interna, daí eu acreditava, mas também sabia que era tudo em vão. Eles acendiam um cigarro, minhas mãos percorriam seus peitos, peludinhos, outros, tantas vezes depilados, raspados, pinicando. O amor não existia, era fraude nos dias seguintes e garrafas de cervejas vazias, encostadas em um canto qualquer da casa, sala, cozinha, banheiro, quarto, criado mundo, janelas, estilhaços no meio da rua. O amor era aquela coisa, eu embaixo, ele em cima. De vez em quando eu em cima, ele embaixo, troca-troca. Dedos, línguas, tapinhas, palavrões, porra, sêmen, porra, porra e porra! Pois bem, isso era o amor, meu, deles, nosso, nossos, amor, amores. Era minha boca mais embaixo, a dele mais em cima, era aquele numero seis e nove. Amor gemido, sussurrado. Sexo? Não, isso nunca. Isso era amor porque era tudo o que eu podia ter. Aquela coisa no espelho do banheiro, pichada com batom não rolava, nem café na cama e eu sentado no sofá vendo a novela da Glória Perez, chorando, esperando por um homem somente meu. Noutro dia era exame de sangue e eu sempre limpo, mas era um eu todo contorcido, angustiado e sofrendo, sofrido por um amor, um caso sexual-amor-porra-nenhuma-caralho, fracassadinho.

E todo dia eu lá, às seis horas da tarde, em ponto me passando de virgem, com o terço nas mãos. Prometendo a não sei quem, talvez ao vento, que tudo a partir daquele momento seria diferente, eu queria e eu tentando acreditar, precisando crer fielmente naquelas promessas, pedindo a todos os santos que colocasse em meu caminho alguém que se importasse um pouco mais comigo. Não demorava, o telefone tocava, eu corria achando que era o cara de ontem querendo me ver, rever e marcar de sair semana que vem, no outro mês, me pedindo em casamento, eu aceitando, nós casando, ele e eu, indo, vindo da lua de mel, mas não, não, não era eles e sim alguém, amigo, colega, primo ou prima convidando para tomar um açaí, depois uma cerveja e quando menos esperava, estava eu lá querendo adiar as promessas. Algum homem, por favor, chegava mais perto, se afaste, gritava meu coração romântico e quebrado, não me magoe, vamos para casa, oi? Falava alguma coisa, eu sorria de orelha a orelha, me entregando, sendo meio puta, meio monja, meio Dercy, meio Sandy, antes, bem antes, não, era eu, todo eu, puta-monja-desavergonhado. Falava mais algumas palavras e eu já tentando arrastar, ele, o meu, nosso corpo, banheiro-dark-puteiro-ai-meu-Deus-que-loucura. Jogava sempre o dinheiro sobre a mesa, ia saindo, eles vinham, eu levava para casa, abria a porta, eles chegavam por trás, fechava a porta, eles abraçavam por trás, lambia minha orelha, eu gemia. Deitávamos, rolávamos, gozávamos, acendíamos uns cigarros, cada um virava para o seu canto, lado, dormia, outro dia, acordávamos, quase juntos, um tchau com promessas de que nos veríamos mais tarde e eu sempre esperando, em vão, tudo em vão, então repetia que o amor é coisa tola, eu tolinho, o amor tolo me tornava tolo, tola, não sei, ai que loucura, esperando sempre os ecos da imaginação, ajoelho, terço em mãos, rezas, promessas, telefone toca, saio de casa, fico bêbado, louco, fácil, dou para o primeiro cara que me sorri, dedos, bocas, pelos, suor, fogo, esperma, cigarros, cada um pro seu canto, acordamos e ele se vai, minha esperança se vai, só, somente resta uma ressaca, moral ou imoral. Aquilo de que as pessoas só enxergam as merdas que a gente faz, mas não vêm as merdas que a gente anda comendo. E o lençol todo pingado de porra, minha ida a farmácia com aquela velha receita, encho o cestinho de drogas, volto para casa, abro a vodca, encho o copo, engulo uns sete, oito, vinte comprimidos, mais vodca para dentro, alucinações, trepo comigo mesmo, trepo com a voz do repórter da Rede Globo, depois trepo com a Janis, me apago, sem ninguém do lado para chamar de meu, meu, meu homem, porém, todo melado de porra, de um amor meu comigo mesmo. Acordo, passo o café, assisto os desenhos, frito hambúrgueres, decido deixar de ser vegetariano, durmo a tarde inteira, acordo umas cinco e meia – da tarde –, tomo um banho, pego o terço, rezo, prometo, peço para que um dia eu consiga encontrar alguém que esteja disposto a me ter nos braços, que cuide de mim e me ame e eu o ame também, nos amemos. O telefone toca, saio de casa, acendo um cigarro, jogo moedas na fonte da praça do bairro, se funciona na Europa, vai funcionar comigo também. Entro do bar de todos os dias, vou direto pra cerveja, chega um homem, ele me diz seu nome, eu minto o meu nome, ele sorri, eu me derreto, deixo para o dia seguinte as promessas. Logo em seguida ele me acompanha até em casa, ofereço um café, ele me pega, me ama, me come, acendemos um cigarro, mas essa noite esse resolveu não virar para o canto. Segurou minhas mãos, olhou fundo nos meus olhos, beijou minha boca e falou, perguntou, questionou, não sei, ele não virou para o canto, segurou mais forte minha mão: Olha, já estou cansado dessa brincadeira. Por que todo dia temos que ser, um para o outro, estranhos? Não poderíamos mudar o tipo de fantasia?

Um comentário:

Vanessa Araujo disse...

Olha eu por aqui novamente... Já disse que amei seu blog, seu talento para escrever, td! Então, retribuindo o carinho q vc tem por compartilhar seus textos com seus leitores, indiquei seu blog para ganhar um selinho!
Confira:

http://livrosserie-byniki.blogspot.com.br/2012/07/selinho-seu-blog-e-divo.html

Beijocas! ;)