30 de dezembro de 2012

Pequenas epifanias

O que tem de boa na nossa vida? O que temos feito com o tempo vivido? O que já fizemos? Será que não existe nada de bom? Nenhuma coisa pelo qual morremos de orgulho? Não é possível que durante um dia todo, não existe alguma coisa, algum motivo para se contentar. Não acredito que em uma semana, não tenha existido aquele momento com o qual pudemos sorrir de satisfação. Não pode haver, em um instante de um mês inteiro, alguma coisa, um pequeno ato com o que não nos tenha feito alguma coisa boa, alguma coisa valer a pena. E o que dizer de um ano inteiro? Não existem aquelas pequenas ou grandes epifanias de nós mesmos? Onde conseguimos alguma coisa que queríamos? Não é possível. Não acredito que do nosso nascimento até o dia de hoje, não tenha detalhes com as quais nos sentimos melhores, mais contentes, felizes pra ser bem otimista.

Às vezes parece que só as tragédias que há em nós que ganha espaço e destaque. Parece que só as tristezas são lembradas com tanta força e só as dores são os instantes que mais gostamos de preservar em nossa memória. Às vezes, só às vezes, de vem em quando a gente quer ser de fato feliz; quer de fato poder sorrir mais do que chorar; sentir mais coisas boas a se entregar ao que não tem mais valor.

Pode ser que hoje, alguma coisa tenha feito nó em nossa garganta, mas e aí? Os nós existem para que possamos desfazê-los. Pode ser que hoje uma pedra nos tenha feito tropeçar, mas talvez essa pedra simplesmente estivesse em nosso caminho para nos fazer parar um pouco, pois não paramos mais para nada. Vivemos a constante correria. Pode ser que hoje, uma rasteira tenha nos feito cair, porém, é no chão que podemos enxergar algumas sementes germinarem, começaram a dar seus primeiros brotos. De cima, fica difícil ver a rachadura que aquilo que semeamos tem feito para poder se tornar alguma coisa grande. Acostumamo-nos com as flores já lindas e perfeitas, mas não lembramos nunca pra parar e ver o esforço da planta para se tornar uma coisa bela de se ver. Assim também é com as pessoas. Deixamos passar despercebidos pequenos gestos e pessoas; estamos sempre de olho nos que brilham intensamente, almejando assim, um dia brilhar também, mas nos esquecemos de que esses que conquistaram seu espaço no meio da multidão também passaram pela semeadura, foi muitas vezes confundido com erva daninha, mas não desistiu. Talvez só tenha sobrevivido e conquistado alguma coisa na vida, pelo simples fato de alguém se ajoelhar a sua humilde insignificância e depois de perceber que não se tratava de uma erva qualquer, proibir que tocassem naquela singela plantinha.

Pode ser que seja fácil escrever que a vida carece de mais atenção, de mais gestos simples e de cuidados a mão, porém é mais difícil ainda, perceber que não se acredita mais nas pequenas manifestações. Talvez, seja ideologia demais querer abraços sinceros, pode ser que encontros reais estejam escassos, pode ser que levantarmos do comodismo não seja assim tão fácil, mas ainda há esperança em poder reencontrar os amigos de verdade e reais; é boa a nostalgia que nos tira da acomodação, que nos impulsiona a ideologias, pois se ainda existe alguma coisa dentro do pensamento que nos intriga e faz sentir-se meio incomodado, é um acontecimento, já é uma grande coisa.

Por esperar grandes coisas não nos abrimos mais as coisas simples e que satisfazem muito; por só querer seguir pessoas perfeitas, nos frustramos por perceber que perfeição não foi feito para seres humanos como nós e por aguar situações maravilhosas, passamos a ignorar as coisas, todas elas, pois a cada instante, o maravilhoso se torna inalcançável. Morremos sozinhos, já que quem estava disposto a morrer conosco não era grande coisa assim; vemo-nos sem amigos porque quem um dia disse que queria ser nosso amigo não servia; matamos quem poderia nos tornar pessoas felizes ou melhores, pelo simples fato de não concordar com sua opinião. Estamos vivendo a época em que não a individualidade não é lá coisa notória. No fundo, só nos interessam os diferentes, os nada convencionais, só que esses mesmos que nos parecem estranhos e diferentes, são iguais a um monte por aí. Julgamos o normal, mas o anormal já não existe mais, tudo se repete. No fundo, somos crianças e não assumimos nossa carência, suprindo assim, com aquilo que julgamos ser bom, porém, de droga e coisas ruins, também são boas, tudo depende de quem faz uso e de como usa.

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