9 de abril de 2013

Ao amor que temos

Então vocês, todos vocês decidiram falar de amor. Falar e não viver. Viver como se amor fosse o simples consórcio da casa própria, o acordo pré-nupcial? Falar de um amor que quer e não viver o amor que é? Tornaram o amor a coisa mais simples do mundo, mas esperem ai, o amor, aquela coisa que antes era visceral e intimista hoje se tornou status de rede social e isso basta. É um “relacionamento sério” daqui, um “relacionamento sério” de lá e com isso, com o status, entre as curtidas e os comentários pífios, nós vamos aos poucos, deliberando falas e pensamentos de um amor que não é bala. Amor que é amor, o de verdade, é exatamente como aquela cerveja estupidamente gelada, são as rosas recheadas de espinhos, o soco na boca do estomago. Que borboletas que nada. O amor é sim, a rasteira certeira, o desafino, a contraposição de tudo, o andar na direção errada e não simplesmente as contas a dividir, o aluguel a pagarem juntos. 

Chega com essa bobagem de sair por ai pintando o amor de vermelho, ou colorido, como se o padrão de todas as coisas fossem as cores e a ausência de cores implicasse a sentimentos contrários. Deixem já de perceberem, afinal de contas, o amor não foi feito para a percepção e sim para a sensação. Quando amamos, sim, amamos de verdade, sentimos ao encostar dos lábios coisas que a olhos nus, não percebemos; que aos toques dos dedos sentimentos o que não podemos enxergar. Portanto, é viver e o amor, senti-lo em sua forma mais constrangedora e embaraçadora.

Não é diz que me diz, são atos. É o ter o que dizer e não saber como dizê-lo – se realmente for necessário dizer.

Será que ainda é possível se apaixonar de verdade? Não existe mais amor impossível? Para se amar temos lá que ter razões o suficiente? Temos mesmo que saber bem o que amamos ou o porquê amamos? Não estaríamos sendo práticos demais e amantes de menos? Amamos o que nos causa furor aos olhos, mas na cama é um lixo. Há amor nesse contexto? Amamos porque ele diz coisas bonitas. E na hora da briga? Ele te diz coisas negativas e te faz sentir-se com uma puta sem valor nenhum ou um corno horroroso. Há amor nisso? O amor que hoje vejo por aí é esse amor que “tanto faz”, “tudo bem?” “tudo!” e beijinhos secos aqui e outros beijinhos molhados demais ali. Há amor no século vinte e um?

Ama-se como amante o que era um simples amigo. Pelo comodismo? Ama-se aquele que não irrita. Pelo egocentrismo? Ama pelo sentido que faz? Que graça tem? Aliás, sentido não tem nada a ver com nenhum sentimento humano. Ninguém é igual, o amor em uns é extremo, em outros calmaria; a vida de uns são o ócio e em outros, a mesma vida é a bagunça e aí? Deixaram de ser a mesma coisa pela diferença que se é vivido? Não! Não deixaram pela singularidade, mas existem e se somam, juntam.

O amor é cego? Sim! Estúpido? Sempre. Doente? Com certeza.

Miguel Esteves Cardoso escreveu o que eu concordo em gênero, número e grau sobre o amor. E claro, vou dividir com você que lê, ou você que não lê. Enfim, vamos lá: “Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.”.

Essa coisa de tornar tudo contemporâneo já está dando no saco. Não. O amor não precisa de um “F5” para voltar a ser o que era antes, aliás, se o amor precisa voltar em alguma fase da história para que os humanos aprendam alguma coisa, já pode indo dando Esc ou desligando por total, pois, não foi, não é e nunca será o amor. Talvez seja como eu disse: um momento de status. Anda faltando facadas, brigas entre as famílias. Ok! Não é pra tanto! Mas, falta amor ao amor dito; ao amor escrito; ao amor inventado.

Acho que já escrevi demais e também é hora de eu colocar em prática, mas o amor é isso. É dor de cabeça um pouco; compreensão um pouco também. Um pouco de nós dois e não apenas no que eu quero. É saber dividir, somar, multiplicar. Enfim, o amor, sem suas concepções egoístas ou cheia de florzinhas, mas ainda assim amor, real e não apenas status ou palco para comentários.

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