23 de abril de 2011

Meu corpo

Sempre fiquei sufocada pelo tecido que cobria o meu corpo. Minha pele já era revestida de coisas sintéticas e unida por um fio imaginário que quase sempre tive. As flores se juntavam aos meus desenhos infantis preferidos e as frases de efeito que escolhi para mim. Meu corpo está todo pichado de arte vulgar, sensível e mística. Não tem espaço e o espaço que tem, ainda não foi apoderado de alguma loucura capitada pelo meu pensamento. Pensamentos sãos minhas coisas particulares que unem meu corpo, alma e pele. Minha pele se une a cores, desenhos e agulhas. As agulhas me furam e no final me enfeitam. O efeito é sombrio, é retardado e egocêntrico. Eu sou egocêntrica e meus desenhos são partituras soltas para o mundo visível. Quando torno meu corpo nu me sinto ainda vestida. Mas a vestimenta me cai bem e bem eu fico. Minha alma se eleva quando observo no espelho, os mantras, símbolos e organogramas em mim talhados. Sim. Uma coisa liga a outra e ao mesmo ela desune, se torna contrário e cai. Ao cair se levanta, tropeça e ri. Atento-me as linhas, os traços e as bordas. Minha linha curva se torna mais curva com a opacidade dos meus detalhes. Os meus traços se tornam firmes e meus passos se firmam na firmeza dos meus traços. Minhas bordas se tornam figurativas e quando não separa, une cada coisa em seu devido espaço. Sobram-me as cores negras, vermelhas, verdes, azuis... Tudo sobra e mesmo assim, denoto que alguma coisa ainda falta. E se falta, a gente deve preencher. Que me venham mais coisas, mais detalhes... Favoreçam-me os fatos, as histórias e as contraculturas. Que sopre em mim, um espírito revestido de armaduras sintéticas e plásticas. Coisas que possam aderir e seguir o compasso do meu corpo. Tudo pode. Tudo se concretiza e esse mesmo tudo, uma hora vai ser nada. Mas por hora, só isso me basta. Ser, estar, fazer... Morrer, só depois. Ainda tenho tempo e tempo não tenho. É agora. Desenhar. Criar. Lançar sobre mim, mais efeito visual. Mandalas, mais mandalas. Pontos estratégicos em meus chacrás e uma frase boa de bom efeito colateral. Uma placa de pare quem sabe pensando nos que podem querer abusar da minha pele. Um sinal vermelho, amarelo e vermelho a fim de talvez causar inóspita complacência com o bom caminhar da humanidade. Mais símbolos. Aqueles que desafiam toda a cultura, governo e a mim mesma. Se enrugar, que as rugas possam se banhar no oceano colorido do meu corpo. Se tudo cair, que caia uma coisa sobre a outra e assim, ela ainda permanecer um pouco de pé e assim formar uma nova aquarela. Sou toda costurada em detalhes e esses detalhes me tornam mais livre e televisa. Sou atração e motivo de espanto. Sou mulher, sou tatuada e meu corpo é assim. Cheia de artes estampadas pelos cantos, pelos becos... Entre as pontes-aéreas e intermunicipais. Foram homens que escorregaram pelo meu corpo e mulheres que desdenharam suas fantasias em cima de mim. Foi culpa de bebida uma vez. De uma droga depois. E de minhas capacidades criativas sempre. Não me atrevi a ficar paradinha e com medinho. Desenhei-me novamente. Quem sabe Deus não goste do que vê, mas eu amo no que me modifiquei. Sou a bebida que nem todos tomaram e o quadro que poucos observaram em sua totalidade. Sem a divisão pelo tecido de pano que me cobre do peito a bunda. Sou a pintura rupestre e a aquarela do meu surrealismo louco. Perdi meu tom natural, mas adentrei ao tom psicodélico. Sou o arco-íris privada apenas de brilhar no céu, mas resplandecente na terra.

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