28 de outubro de 2011

Terapeuta a La Punk Rock

Sentei e enquanto esperava por ele, simplesmente pedi a primeira cerveja da noite. Deixei que os meus sentidos ditassem o que eu deveria fazer e entre erros e enganos, minha vida ia se transformando em um caos que não sabia exatamente como lidar. Não podia mais ficar me recolhendo entre os cacos, eu necessitava de uma mão, fosse ela de quem fosse para me retirar de minhas lástimas, mas ela não veio e um estranho sentado à beira do balcão daquele boteco, sorriu-me mostrando os dentes. Camisa preta, calça rasgada e allstar preto, riscado pelo tempo e destruído por todo aquele roqueirismo que ele talvez seguisse. O que sei, é que me sorriu a beira de minha morte cotidiana. Estendi meu corpo, em posição de receptividade e ele levantou da banqueta que ocupava. Seguiu em minha direção, perguntou se podia sentar e eu, com a cabeça, disse que sim. Naquela altura do campeonato, não importava quem quisesse sentar a minha frente, podia mesmo ser qualquer um, mas alguma coisa me dizia que o rock-star de camisa preta quase que aberta, não era um ser humano qualquer, com suas asneiras quaisquer e nem com uma vidinha qualquer.

Disse-me seu nome eu devolvi o meu, quase que vomitando a minha existência, choraminguei a minha mesmice corriqueira e ele permaneceu o mesmo. Falava pouco, mas o suficiente para retirar de mim, os monstros, todos eles de dentro de mim e ao final da primeira cerveja, ofereceu-me seu Uísque. Aceitei, mas pensando que ele pediria ao garçom, coisa que não fez. Deu-me o copo que segurava e permitiu que eu matasse de vez com aquele líquido amarronzado e eu assim o fiz. Permiti beber aquilo que me ofereceu, como única saída de minha frustração diária.

Ramones. Foi o que disse o sujeito-punk, olhando dentro dos meus olhos e levando-me a ânsia de mim mesmo. Não entendi, ele explicou. Compreendi que se tratava de mais um daqueles incoerentes que amavam o Punk-Rock. Que tinha um ídolo drogado e que com toda certeza do mundo, era como eu: mais um perdido na vida. Mas não era. Alguma coisa dizia que a loucura dele era simplesmente saber se portar como alguém que admirava, mas que independente de ideologia, vivia o que era sua vida. Não importasse que fosse de fato igual com os ídolos, mas que era a sua vida, o teatro que encenava todo dia.

Sorvi daquele cara, todas as suas, razões obvias de eu escancarar-me ao mundo e viver intensamente todos os meus dias. Ponderar as minhas angustias e vivenciar todos os meus fracassos e dando aos goles, sentido para cada coisa a qual eu vinha me propondo há tanto tempo ser. Ele me orientou a seguir o Rock de dentro de mim e percebi que era de um terapeuta a La punk rock que vinha o ensinamento de todo o resto de minha vida.

Ele levantou. Apertou minhas mãos e sem dizer mais nada, retirou-se. Logo em seguida, veio até mim, um dos garçons daquele lugar, me entregando uma garrafa de Uísque e junto, um guardanapo, escrito a caneta preta: “meu rei, temos essa vida para viver intensamente cada coisa. Viva o punk rock dentro de você. Saudações, Muchacho!”.

Para o Rafitchos!

10 comentários:

Eduardo C. Diniz disse...

Tipo Se você ta assim logicamente tem alguma problema sugiro que contrate um exorcista :p zoa zoa'

gostei da postagem

Renata Cundari disse...

De fato cada um tem o terapeuta que merece, e se esse texto expressa realidade ou ficção pouco importa. O que importa é que ele nos transmite uma realidade imersa em nós. Ou seria submersa? Enfim.. Um terapeuta a La Punk Rock é o que de fato falta na vida de tantos garotos e garotas perdidos ou não por ai.. As vezes eles se perdem dentro de sí não é mesmo? Mas nesses casos a auto-terapia é a mais indicada, estou certa?

Gostei do texto, há tempos não conseguia me prender a uma leitura =D

Aflaudisio Dantas disse...

O desfecho foi do caralho! Muito bom.

Maíra Cintra disse...

Um texto supe sincero e realista!
Parabéns Kleberson

Emma disse...

rapaz, nada como alguém de um mundo diferente do seu pra te trazer à realidade.
belo texto, muchacho!

http://manusoaress.blogspot.com/

Luis Sapir disse...

deixe o metafísico invadir. Se afunde num mergulho ao desconhecido. Viva!

Kah Inacio disse...

gostei da reflexão *-*


http://www.blogescolhas.tk

Josimar Junior disse...

Cara gostei

parabéns!

Luís Paz disse...

Curti o conteúdo do teu blog, continua assim.

to seguindo, segue de volta e comenta?
www.luliskd.blogspot.com

Anônimo disse...

Uma boa conversa com um estranho costuma nos fazer muito bem, nos faz sair da mesmice de sempre.