31 de dezembro de 2011

8 ou 80


Andei de passo em passo e aonde cheguei? A beira de um precipício onde a razão e a loucura não surgem tanto efeito. Procurei entre os que passaram e ainda passam por minha vida, um cais, um ponto, mas bem longe, terra agreste que torturava, mas que agora não mais passa de oceano que se foi e passou. Levaram aquele extenso mar de sentimentos baratos, afetos aflitos, egocêntrias paralelas... Cai na areia, depois de revelar-me que para onde quisesse que eu fosse somente a minha existência poderia me levar. Que só encontraria terreno firme, pronto para por os pés, no momento que compreendesse que lá, onde o chão se torna terreno afetivo próprio, somente as minhas pernas, somente elas que possuíam o dom de me fazer de pé, poderiam me portar.

De um modo ou de outro, sabia que o início tem lá seu fim e ligar com os meios eram conseqüências de quem um dia pôs-se a caminhar, partir, ir... E depois de tantos naufrágios, eu, um barco recém lançado a viagem, quer lá passageira, quer lá longa, fui aprendendo a me esvaziar. Colocar para fora, todas as coisas inúteis a minha embarcação. Menos chances de futuros afundamentos. Comecei deixado para trás, tudo aquilo que minha emoção já não suportava mais. Deixei de carregar e abandonei no caminho, as coisas que já não necessitava mais. Fui derrubando os afetos, enterrando em água todos os tipos pessimistas, cacoetes, covarde... E se eu estava tentando escrever, formular uma nova rota para seguir em frente, abri mão dos velhos roteiros e mapas. Das coisas que um dia fui, coloquei num baú e lancei também oceano adentro. Que fique por lá aquilo que não fazem mais parte do navegante que estou indo ser. Se fizer parte da minha história, que fique lá, adiante escreverei outras prosas, outros textos, uma nova história. Se para todos aqueles são ofertados um novo recomeço, também eu, quero poder virar a página e começar de novo e de novo e de novo... Seja lá quantas vezes necessárias.

Não esperem a tripulação que um dia eu vá buscar, salvar em meio ao mar tudo aquilo que a mesmice escreveu. Não quero mais lamentar as besteiras que já passou. Não esperem que eu vá sentar a beira do cais e chorar com aquelas subjetividades um dia escrita. Não nego o passado, mas largo a mão e deixo o que passou para trás e sigo em frente, soprando o barco que propositalmente, me foi dado o de velas, para que pudesse me preocupar com as vezes que faltasse o vento, a brisa e assim, me obrigasse a soprar com um novo animo.

Entreguei ao mar, aquilo que não me pertencia. Foram objetos tortuosos e coisas que não faziam mais sentidos. Também vi com certo pesar, o meu jeito humano de ser, jogar, lançar a sorte própria, pessoas que já não condiziam com o que estava me transformando. Elevei meu pensamento às forças naturais, com um pedido silencioso de que pudessem se salvar por si próprios, mas tinha que fazer isso. Não é que não serviu, não é que não foi bom, não é que sou ingrato, mas certas coisas precisam ser lançadas para fora de nós, para que comecem ter suas vidinhas próprias, longe da nossa, longe da minha!


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