31 de dezembro de 2011

Tudo bem, apago ao sair


Testando: um, dois... Som! Testando!

Terminei o Uísque. Virei com tudo, perdi a classe. Que classe se ainda sou um jovem. Meio burguês, meio socialista, com uma queda ao anarquismo. Conduta? As minhas, próprias. Mazelas, somente as minhas. Estréias? Depois, somente depois que o barco virar e o dilúvio passar. Ainda estou em terra firme, mas meus pensamentos voam longe. Mais uma dose. Cadê o garçom? Se foi? Não, nunca teve. Tenho que aprender a servir a mim mesmo quando tudo se acaba. Acabou, viramos a página, iniciamos de novo, assim, uma coisa de cada vez.

Senhor perdoe-me! Só mais algumas horas e tudo estará consumado. Seguirei a minha via-crucis e pendurarei meu corpo em minha própria cruz, talhada por minhas mãos durante esse tempo que me abstive, que cumpri minha penitência, que fui humano demasiado humano. Senhor dê-me mais alguns instantes. Permita-me? Sente-se, puxe esse banco e sente-se bem perto de mim. Vê se me escuta, se me entende e que não me julgue! Senhor, senhor...

Já vou, antes... Não me puxe, para de me empurrar, deixe que vá sozinho e mesmo que eu precise de apoio, não me de. Permita que esse corpo cansado repouse num chão qualquer, amanhã tudo isso já haverá passado, amanhã é um novo dia e eu tentarei por eu mesmo ser um pouco melhor. Senhor vá. Não quero que fique. Leve também consigo esses homens. São seus discípulos? Vá, e só uma coisa, não confie tanto assim, nessa vida, sempre tem alguém do nosso lado, servindo-se de nossa amizade, para depois nos trair. Claro que sei que já lhe foi contado essa história, mas no nosso caso, não é história de salvação, a não ser que esteja assim como eu, perdido. Só é salvo quem precisa ser salvo e não é esse o meu jogo e nem o seu. Vá, ficarei aqui mais alguns instantes e ver se passa uma estrela cadente e assim, quando ela chegar, passar eu passo. Vou com ela e carregarei também o meu destino.

Estou só e delirando. Não, estou acompanhando, mas ainda assim delirando. Preciso de Vodca, de Uísque. Preciso de gente. Preciso de cuidado, de atenção. Preciso, verbo intransitivo, preciso, seria o acaso pretensão de meu destino? Estou bem, ainda delirando, mas bem, logo passa, amanhã passa, tudo em nossa vida passa. Aprendi que a vida é um eterno perde e ganha e eu tenho apenas perdido. Perdido para os que dizem amigos, já passou, se foram. Andei perdendo para os vagabundos, para as putas e para o Coelhinho da Páscoa. Passou também o velho Noel, não, o Rosa não, o gordinho do saco cheio de prendas. Passou, assim também passou o fluxo de meus dias e hoje estou aqui, sentando a deriva, a espera de uma estrela cadente que nunca chega, passa, se vai e me leva. Como assim? Já passou? Não acredito. Não posso acreditar. O que? Eu sei, resta um sujeito em delírio que aos poucos vai passando. Tudo bem, já me vou. As horas passaram, mas também já se foram tantos dias, meses. Agora resolveu passar o ano, vou com ele, passando, caindo, levantando, porém, fui, passei, amanhã, somente amanhã, eu saberei se de fato passei. Passou, adeus, passei. Até logo, passante!


Um comentário:

Maria Eduarda Bachega disse...

Hey, muito bom os seus textos! Gostei daqui.

http://luxurymuch.blogspot.com/