Tudo de uma vez

De vez em quando a gente se ama e se imagina no melhor momento da vida, do mundo, do cosmo. Depois deixamo-nos gostar, amar alguém e mais a frente, autorizamos alguém a nos amar. Trocamos abraços, beijos e amasso. Distribuímos e engolimos saliva. Encontramos o suor, a pele e o pelo. Um dia a gente dorme de conchinha e acorda com a sensação da melhor noite já vivida. Abrimos a porta para que ele ou ela entre, reabrimos para que possam ir, mas acreditando fielmente que se volta. Pode ser que reapareça com um buque de flores ou simplesmente não volte mais!

Abrir o que a gente é parece fácil, porém é perigoso. Tudo porque somos humanos e crescemos acreditando que a vida era para ser "feliz para sempre". O que não é verdade, pois é relativizar as coisas e querer se igualar aos contos de fadas. Pode até ser que felicidade não seja isso; que não esteja nos contos de fada, que isso e que aquilo mais... Aprendemos muitas vezes na nossa pequenez a encarar a realidade sobre a nuance de que tudo vai dar certo, mas nem tudo vai ser assim, pois temos o direito de "cagar e sentar em cima da própria merda". Aprendemos e um dia, ao crescer, vem gente querendo nos ensinar como é a vida de verdade, ou seja, por muito tempo mentiram para nós e agora que a gente tem seus vinte, trinta, cem anos, querem nos fazer engolir situações aparentemente novas.

De vez em quando deixamos de nos amar e imaginamos que nunca mais encontraremos algum motivo para sorrir novamente! Passamos a não amar mais e apenas desejamos, pode até durar horas, dias, semanas... Meses? Tudo bem? Os relacionamentos hoje de culto a um objeto pode durar até mesmo. É aquele momento que nos enganamos e acreditamos que estamos vivendo um amor, quando na verdade é um acostumamento das relações. Somos partes de um mesmo jogo de afetos grotescos trocados. É como e tivéssemos cumprindo um ritual de colhões para não ficar sozinho no mundo. As pessoas tem medo de deserto, por isso se entregam facilmente a qualquer individuo que apareça e ofereça um pouco de prazer. Eu sou assim, meus amigos são assim, minha família é assim e muitos que se e nos entregam passam por esses tormentos desertos afetivos! Atracamo-nos entre os braços, cuspimos beijos. O amaço é só parar amassar a roupa. Nojo do suor. Já não queremos espaços em nossa cama, nem dividir nosso lado que sobra com ninguém. Escancaramos a porta para que partam e nunca mais voltem. É que só queremos nosso espaço reservado e de volta. Queremos que as nossas coisas deixem de ser violadas. Só queremos um pouco mais de nós, sem ser invadidos.

Não estamos aberto, pois aprendemos que deixar que alguém entre é arriscado demais. Trocamos a felicidade dos contos de fada pelas alegrias passageiras e momentâneas, já está ótimo. Estamos com medo e trancafiados dentro de tudo aquilo que a gente ouvia falar. Experimentamos na carne a dor que o prazer pelo prazer nos dá, contudo, vamos percebendo-nos um pouco anestesiados. Se caímos, que é coisa que sempre nos acontece no patamar "pessoas", aprendemos a ficar logo de pé, pois nunca mais apareceu a mão acolhedora e salvífica. Estamos refugiados e engolindo a seco a vida!

Tudo porque simplesmente estamos cuidando para que possamos ser felizes de fato. Estamos com medo de viver intensamente nossas vidas. Tudo porque carregamos orgulhos, preconceitos, falsas moralidades e mais, estamos sobrecarregados de nós mesmos, impossibilitados a ver além, a ver os outros e as coisas como são! Estamos apenas querendo que alguém se vá e volto quando for conveniente. Que ninguém fique, mas que apareça de vez em quando. Alguém que compreenda que somos seres humanos livres!

Kleberson M.