20 de março de 2012

O que a gente vai levar

E se fosse possível nós na juventude visitar a nossa velhice? Será que seríamos alguém do tipo que olharia para trás e conseguiríamos rir por tudo que passamos ou lamentaríamos? Teríamos muito a nos arrepender ou estaríamos tranquilos por termos experimentados bem cada parte do nosso tempo? Reclamaríamos ou apenas gozaríamos da vida que em tão pouco já tivemos?

Como nos comportaríamos diante do espelho e perceber que já não temos mais aquela pele lisinha, cabelo pretinho? Que faríamos se no lugar das acnes espremidas tivéssemos que nos conformar com as rugas? Estaríamos prontos para desapressar os passos e começar a caminhar mais lentamente?

Claro que não estamos preparados para essa fase da vida que requer um pouco mais de atenção e cuidado, afinal de contas, ser velho requer determinação nossa e de quem tivermos do nosso lado, mas se acontecesse amanhã que ao acordar com vinte ou quarenta anos a mais, estaríamos prontos? Seríamos sábios ou fracassados?
Orgulharíamos diante do mundo para abrir o nosso livro da vida ou esconderíamos as nossas falhas, nossas quedas, nossos desesperos que o tempo fez questão de riscar em nossas páginas brancas? Penso que uma vida bem vivida não é aquela que a gente acha e intitula como certa, mas sim aquela que nos dá uma satisfação, não as momentâneas, porque senão sempre vamos buscar alguma coisa e nunca de fato estaremos preenchidos, mas aquelas coisas boas da vida que podemos até não entender e nem tentar esconder. Chegaremos mais tarde a compreender ou simplesmente entender que nem tudo que conquistamos era para ser nosso e que tudo que deixamos passar provavelmente era. É viver o hoje pensando no amanhã, para que não venhamos a nos tornar a cada fase seres infelizes. É não deixar passar despercebido o riso e nem mesmo às lágrimas. Não deixar ir quem tanto estimamos e permitirmos partir quem não quer ficar. Na juventude a gente prende demais as coisas, as pessoas, os detalhes, mas é na idade mais velha que vamos perceber que o que não é nosso não o é. A gente sofre na juventude porque não sabe ser sábio e vamos sofrer na velhice por não termos aprendido com a nossa juventude. Somos orgulhosos demais e por isso nos entregamos a preceitos, preconceitos e a ele próprio, o orgulho.

Em nossos poucos anos de entendimento, aquele que vai do momento que angariamos os primeiros valores até a constituição de nossas coisas, pouco nos importamos com o momento da história que seremos obrigados a parar no tempo, sentar e apenas pensar. Restaram-nos os momentos, e por que não os melhores? Sobraram as saudades e por que não das coisas boas? Ficará apenas o tempo que se foi para nos servir de companhia e por esse presente que o destino nos preserva, por que não viver bem o hoje, fazendo com discernimento o que achamos que é bom, para lá na frente podermos repousar a cabeça fraca no travesseiro da eternidade?

Perdemos todo o tempo do mundo e uma hora o tempo perdido virá requerer respostas. Então, por que deixar para se arrepender por tudo aquilo que deixamos de fazer ou fizemos em excesso? A nossa cultura é aquela que pouco se importa, mas que chega quando as cochias estão para se fechar e pede mais um pouco de tempo para chorar pelo que passou, mas a vida não permite, pois nesse espetáculo, o momento final não requer tantas voltas para se encerrar. Chegar à vida idosa requerer uma vida passada bem vivida. Não estacionamos no tempo quando os cabelos ficam brancos e nem nossa fala fica ou muda demais ou gritante demais, simplesmente esse é o espaço do livro da vida que temos que voltar para trás e rever, revistar a capela que fomos e ver o que guardamos e o que jogamos fora. Afinal de contas, o que veríamos ao deparar com a nossa velhice? Aquilo que fomos ou o que queríamos ser? Veríamos o que nos permitimos ou aquilo que nos boicotamos? A escolha de nossa juventude é sombra de nossa vida futura. De dia somos jovens e antes que percebamos, já é noite e já não nos curvamos mais com tanta facilidade.

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