24 de outubro de 2012

O que você vai ser

O que você vai ser quando crescer? Não me recordo se algum dia me fizeram essa pergunta, mas eu sei que sempre tive respostas rápidas. Já quis ser muita coisa, desisti de muitas delas depois, mas não desisti de um dia ter a minha casinha no meio do mato.

Da primeira coisa que lembro que possivelmente eu quisera ser, era alguma coisa da aeronáutica  Eu queria voar, sair do chão. Queria andar fardado, me sentindo um homem de verdade, mas hoje eu vejo que não é a roupa e nem uma farda que faz o homem ser quem ele é de fato. Valores são outras coisas. Tem gente que voa por aí, mas consegue ser pior que aqueles monstros que tínhamos medos quando ainda pedíamos para dormir com a luz acesa.

Quis ser bombeiro, salvar vidas e até perder a minha se fosse necessário. Aí já não pensava na farda, sempre achei aquele tom acinzentado feio demais para quem por uma obrigação, deve salvar, dar esperança. O ser bombeiro estava em andar nas Viaturas de Resgate ou nos Caminhões Auto-Bombas, eu queria apagar o fogo, ressuscitar o sujeito quase morto em meio a uma avenida agitada. Queria acordar bem cedo e voltar no outro dia pra casa e ver quem eu deixei em casa com orgulho de mim, mas essa vontade também se foi. Salvar vidas é necessária, mas eu sou do tipo de ser humano que não sabe fazer bem duas coisas: eu salvaria os desconhecidos e com toda certeza não salvaria aqueles a minha volta e pior, me consumiria a tal ponto que não seria aquele consumir de caridade, simplesmente me esgotaria, me perderia e desse jeito, não seria um bom socorrista.

Quis ser ator, mas não sei interpretar, eu rio com qualquer coisa e no nervosismo, não sairia falas e sim risos. Quis ser pai de três filhos, mas não aprendi a cuidar nem dos meus power rangers direitos, destrua os carrinhos, talvez seria um bom pai no quesito defender meus filhos, mas de resto, não sei, quem sabe? Tudo é possível e estamos em processo de superação, mas hoje não posso assumir a responsabilidade do lar, não como tal. Quis ser católico, quis ser padre, tentei o caminho vocacional, mas não, isso não é pra mim. Quis ser o que a sociedade chama de heterossexual, tentei, mas não consegui. Quis tentar ser homossexual, ainda estou tentando, mas também não sei. Acho que nesse quesito, somos livres, pelo menos eu sou, pois não me enquadro naquilo de que a coisa tem que ser assim ou daquele jeito, estamos mudando o tempo todo e não somos obrigados a se conformar com alguma coisa para seguir os padrões, somos livres, sexualmente falando, quem se prende a isso é tolo, minha opinião, pois vamos perder as coisas que a vida nos oferecem para agradar a quem? Eu quis ser aquele revolucionário, quis mudar o mundo, mesmo que dentro da minha cabeça e isso não é errado e ainda sonho que algumas coisas podem mudar, mas já não sou ativista de nada, pois cada homem deve mudar a si mesmo.

Mas o que eu vou ser quando crescer? Acho que respondi tantas coisas que no final não fui nenhuma delas, mas uma coisa eu já fazia, por brincadeira, para querer mostrar meus sentimentos, para tentar falar de uma maneira diferente. Escrevia para pedir alguma coisa, um 'dinheirinho' pra mãe. Escrevia redações, sempre escrevendo as recordações dos finais de semana, das férias que na maioria das vezes eram em casa, enquanto dos amiguinhos eram em lugares que minha imaginação não alcançava, mas tava bom, importava escrever as coisas que eu tinha, que eu podia fazer e que eu queria mais pra frente. Fui crescendo, as primeiras cartinhas de amor, as primeiras poesias, os primeiros encontros em formas de prosa entre os amigos, os primeiros contatos com alguns dos grandes nomes da literatura.

Escrevi quando era para escrever e também quis ser rebelde escrevendo em provas, em livros escolares, em carteiras de escolas.

Hoje percebo o que eu vou ser quando crescer: alguém que escreve sobre a própria vida, que fala escrevendo sobre as coisas e pessoas ao redor. Escreverei indiretas em formas de crônicas, sonhos em forma de poesias, solidões em tons de prosas. Vou tentar escrever o romance nunca escrito, o ensaio nunca pensado, o teatro nunca narrado. Vou escrever e quero mesmo é morrer assim, com um bloco de papel e uma caneta do lado da minha cama ou de minha maca.

Quero poder finalmente chegar nos meus momentos finais e poder dizer que naquele momento eu sei o que seria quando crescesse: escrevinhador de minha própria história!

Um comentário:

Juliano Mendes disse...

Eu também ja quis ser muitas coisas... entre elas, me lembro que queria ser caminhoneiro, pra poder viajar... mas com o tempo a gente descobre que não precisa passar pela dureza da vida de um caminhoneiro, para conhecer novos lugares...
A vida é assim... vai se adaptando e se modelando de acordo com que os anos passam...