Não estremeça como se quisesse ser o que não é. Sente-se. Peça um Uísque nacional ou aquela bebida vagabunda e sinta a melodia invadir tua alma, coisa presa nesse corpo decadente de quem não aprendeu a rebolar e nem por um pé para trás e outro para frente. Deus não se compadeceu de ti: deu-lhe apenas um pouco de ginga para fugir do óbvio ou não muito obvio, mas te deu a destreza de manter-se calado, parado, quieto quando não se sabe sambar.
O coco nem sempre arrebenta a Sapucaia e nem todo bamba é da periferia e você, pobre humano, vindo das zonas negras do lado B do mundo, não veio a esse mundo para sambar, talvez tenha apenas que assistir e consentir com o balanço desajeitado dos pés-perna-tronco-ombro-cabeça que não veio a essa esfera suada, enfeitada e brilhante de plumas e paetês. Senta-te o rabo na banqueta dura e aplauda. Nem sempre se é o que se quer e nem sempre se pode ser aquilo que não é. Paradoxal mundo do samba. Malditos aqueles que inventaram o samba e trouxeram como bagagem cultural para um mundo que dedilhou outros caminhos: ora o mundo é julgado pelo seu bambear, pelo titubear.
Poetas, não se acanhem quando não souberem sambar como fazem as passistas. Nem elas sabem o que estão fazendo, apenas cumprem o rito passado das gerações. Intelectuais, esqueçam a defesa a seu favor, nem todo bamba é samba e nem todo boêmio tem que passar horas a derivas de um samba antigo. Mundo: nem todo passo é samba, nem todo negro é bamba e nem todo branco é nascido para os salões festivos da velha-guarda! O samba não é para todos que pediram a cerveja, sentados na esquina do futuro ou do passado. O samba é para os sambistas e não para todos que nasceram nessa irremediável Terra-de-Santa-Cruz! Mas, não deixe o samba morrer, pois já dizia o dito que quem não gosta de samba, bom sujeito não é! Mentira, claro, mas que sejamos apenas doente do pé...
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