29 de janeiro de 2013

O choro nosso de cada dia

O choro já não é o pão nosso de cada dia e sim, o choro, simplesmente, sufocante e nada inebriante. Choro é oração própria e cada um sabe a vez que volta a ajoelhar ou de pé, elevar a vida, inundar com lágrimas.

O choro está na disposição e na indisposição. Está no raiar do dia e no pôr do Sol, antes de dormir, quando acordamos, pela madrugada. O choro está sim conosco a todos os momentos, às vezes só que não damos tanto atenção, mas quando damos, é tristeza, saudade, dor, decepção, fracasso. O choro existe muitas vezes, muito maior que a fé e a esperança; muito mais que palavras de motivação e bênçãos.

Choramos por fora, porém, muito mais pelo lado de dentro, onde não cessa e não te nada e ninguém que possa acalmar e enxugar as lágrimas.

Estou chorando pela falta de possibilidades, pelos cortes, pelas contas, pelos que julgam, pelos que não entendem, pelos que falam sem saber, pelos que apontam somente os defeitos. Estou chorando pelas mortes descabidas, pelas catástrofes que não conseguimos evitar. Estou choroso e nada parece ter o poder de me tirar desse estado, dessa desilusão comigo, com os outros, com o mundo, com tudo.

Choro pela incerteza do amanhã, pela pouca certeza do hoje e pelo que a certeza não foi ontem. Todo dia um choro novo; pelos que se foram e não voltam; pela saudade que é uma pessoa, pelas contas atrasadas, pelos amores as vezes não compreendidos e pelas linhas que escrevo e não serão verdadeiramente interpretadas ao modo que as escrevo, digito.

Tenho chorado demais porque reclamo demais e também choro porque falam demais e poucos fazem; choro por esperar e não ter; choro por não ter coragem de ir atrás do que desejo, sonho. Choro pelas malignas línguas e o pior, pelo veneno que dentro de mim vai me trucidando aos poucos.

Chorei. Choro porque também estou quebrado. Minha humanidade está em pedaços. Aqui, jaz metáfora, mas também a certeza de que quebrados estamos desde que nascemos. Ter que sair de um lugar seguro para enfrentar a vida, das vacinas que doem as coxas, os primeiros passos. Dói o primeiro dia na escolinha, o primeiro tombo no esporte que nossos pais nos inscrevem. Quebro com a primeira nota baixa, com os castigos, com a morte de alguém que nem sabemos bem o porquê está de olhos fechados e rodeados de pessoas e flores. Estou quebrado e dói aos crescer, tornar adolescente, transitar pela juventude, chegar adulto, ter que cumprir os compromissos, decepcionar e ser decepcionado. Estou quebrado pelas meninas e meninos que vi quebrar; pelos que estão quebrados e caídos nas ruas, que vão para as filas e são tirados a força; estou quebrado por Santa Maria, por sonhos não concretizados. Quebrei-me ao escrever isso, mas sabe? Ainda vale a pena tentar juntar os cacos, afinal de contas, lavar a alma quer dizer com sair do comodismo, romper paradigmas, lapidar, descortinar o palco que em mim estava coberto de cinza e gesso imaginário.

Sinto que me quebro a cada instante. Não sou mais tão novo, mas ainda estou começando a vida adulta, com isso, quebro, quebrarei... Estou meio assim, choroso pelos acontecimentos, mas cheio de vontade de poder, com ou sem muleta, continuar a vida, quebrando.

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