3 de março de 2011

O travestimento das sensações

Sonhos, representações fantasmagóricas de uma falsa realidade, ou simplesmente impostas por sensações transmutadas numa realidade transvestidas. O homem é assim, capaz de se tornar pequeno diante a pensamentos, que por meio de falsas realidades, se entregar. Mas a grande lógica do jogo proposto pelo presente aforismo é o sonho do lado de fora, que acontece por meio das sensibilidades impostas por nossas nostalgias fracassadas.

“Sonho com um amor em que duas pessoas compartilham uma paixão de
buscar juntas uma verdade mais elevada. Talvez não devesse chamá-lo
de amor. Talvez seu nome ideal seja amizade.” (Friedrich Nietzsche)

Idealizar consiste um processo natural ao qual qualquer ser que consciente ou inconscientemente pense tem para continuar a se mover. O temível é quando nossos “falsos” idealismos pressupõe a capacidade de sermos aquilo que está ao nosso alcance. Claro, devemos nos superar a cada novo instante, que nos é oferecido uma única vez. Não acredito que ainda dá tempo para consertar o que precisa ser consertado. O que nos é permitido, é continuar a partir de onde paramos e superar o que ontem deu errado, para que amanhã, que não passa de uma ilusão, não nos aborrecemos mais uma vez com o que até aqui conseguimos produzir.

“Eu tinha medo do seu medo
do que eu faço
Medo de cair no laço
que você preparou
Eu tinha medo de ter que dormir mais cedo
numa cama que eu não gosto só porque você mandou...”
(Rockixe – Raul Seixas)

O fracasso nesse instante, é indispensável na vida do animal humano. Se define como aquele que não conseguiu atingir seu objetivo, o que não necessariamente é o essencial para se sentir o pior de todos, como erroneamente a má interpretação da palavra dita, seja capaz de transpor-se a incapacidade de ser gente. Portanto, fracasso deve ser entendida como um novo ponto de partida a partir daquilo que não conseguimos continuar. Não como um ponto final e colocarmos debaixo da mesa.

Precisa-se de seres travestidos, não coisas bizarras andando por aí com cara de que acabei de nascer de um mundo de fantasias, mas saber que somos capazes de criar mutações humanamente aceitáveis para se manter vivo. Quem não cria, mesmo que pouco, não será capaz de sobreviver ao processo conceitual do dia-a-dia.

Hora da montação do espetáculo, e de amontoar-se sobre os medos pré concebidos pelos que estão dentro e fora de nós. Transvestir-nos com o lado A e B da moeda e entregar-se não menos que sentimentos sinceros. Fantasias são boas quando não usurpam a nossa verdadeira capacidade de sermos nós em carne e osso.

Nenhum comentário: