20 de junho de 2012

Querido Diário

Hoje terminei de ler Martha Medeiros, aquele livro, Montanha Russa, sabe? É legal, mas no fundo no fundo, é uma merda. Acho prosaico o que ela escreve, deve ser porque não sou muito requintado, mas tá bom, ela inspira, por isso as pessoas não podem me julgar. Claro, tenho outras inspirações que não cabem ser ditas agora, pois daí sim meu atestado de bobice estaria sendo dado a punhos fechados e dentes quebrados na próxima esquina... Outra coisa que me aconteceu, foi receber o frio com calor: deve ter sido o fato de eu ter feito um trajeto que duraria cerca de trinta minutos, em nove ou dez. Perdi o fôlego, cigarro mata.

Por falar em cigarro, uma ex companheira de cela (entende-se cela, no meu caso, a escola, sala de aula, turma de 2003 ou 2004, não sei direito) que está muito, mas muito diferente. Até fomos coleguinhas naqueles tempos, mas hoje, não sei, agradeço a Deus por não sermos mais no mesmo círculo de amigos, se é que tenho um círculo de amigos, tá mais para triângulo, dois ou três, no máximo, enfim, essa guria olhou para mim e eu com um cigarro acesso, não sei se no momento de tragar ou de sei lá o que, e em vez de perguntar: tudo bem? Virou e mandou: fumaaaandooo?

As pessoas já foram mais cordiais, mas não no meu tempo, não a minha geração. Sorte a dela de eu estar com pressa de chegar na minha casa para poder fazer o número 1. Inverno, frio, vontade de fazer xixi, longe de casa... Não é fácil essa vida. Então, voltando aos fatos. Sorte a dela que não tive tempo de mandar ela tomar naquele lugar, ou responder: NÃO, ESTOU BRONZEANDO OS PULMÕES, ou seja lá qual fosse a resposta que eu daria, caso minha cabeça não estivesse ocupada demais para segurar o líquido que queria sair e me fazia doer a bexiga.

Mas que coisa mais sem graça! E a saudade? Claro que não existe saudade! Graças a Deus. Pois bem. A menina tava dando de louca ou não lembra que eu fumo desde quase faz tempo. Talvez ela ainda não saiba que eu tenho preferido os meninos a meninas; tenho preferido um toque de umbanda que as arcaicas missas dominicais; que eu tenho escrito para não morrer engasgado com os meus devaneios a fazer terapia. Talvez ela não saiba ou lembre-se que sou vegetariano a quase oito anos; não torço para time nenhum; não corro mais atrás de professor... Talvez ela não saiba que eu tenho um livro, um blog... O que ela deve saber, deve ter sido pelo que viu na rua: um sujeito estranho, com alargadores relativamente grandes; com piercing no nariz; com cara de louco, pois não enxergo sem óculos (e não tenho óculos); talvez ela leve para a sua casa, uma visão turva de eu dando um sorriso, mas não saiba que só fui lembrar quem era, a uns três minutos depois.

Mas daí eu me perco em divagações e lembro que o mundo não precisa saber quem sou, para onde vou e nem porque eu vou. Me recordo das palavras de um certo alguém que o que eu preciso ser, só interessa a mim. Aí eu volto para minha casa, sento a bunda no computador e revelo para mim mesmo que eu preciso mudar, não pelos outros, mas por mim e para que eu possa ter por perto que a vida me deu como um melhor amigo, um namorado, um parente querido. Lembrando que não é fazer para agradar e sim para somar, acrescentar em minha vida. Pois não quero que passe vinte anos e alguém do outro lado da rua vire e me pergunte: ainda está vivo? E eu gentilmente pense com toda ternura do mundo: 'claro que estou seu filho da puta'!

A vida é um assombro e os outros nos assombram, mas com certeza a gente também está lá, assombrando um alguém que não devia!

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