6 de julho de 2012

Nice To Meet You

E tudo em sua volta não parava de girar e ele tentava manter focalizado o sujeito que se vestia, arrumava o cabelo e checava se sobrará alguma marca arroxeada em seu pescoço, mas há tempos que tinham aprendido a se amarem sem deixar marcas, a não serem alguns leves arranhões nas costas. Ele ficaria ali, preso entre os lençóis, enquanto ele iria compor a outra parte de sua história, o conto mais existencial, mas reconfortante, cheio de vidas, pois a vida deles ali, era ficcional e levava algumas horas, ouve apenas um final de semana distante que fora prolongado, mas já tinha sido há muito tempo e o moço beirou a cama, afagou a cabeça daquele que se estreitava no colchão, beijou-lhe o lábio, trocaram línguas. Um adeus sem saber quando volta. E o quarto ficou vazio, juntando se com o resto da casa que não tinha mais nenhum ritmo de encontro proibido, mais uma vez, casa de clandestinos. De todos os espaços que sobram, ele inventa, tenta criar dentro de sua cabeça, lugares mais aconchegantes, acolhedores, mas as flores murchas a enfeitar o centro da sala parecem estragar a paisagem; as almofadas furadas rasgam a sua vontade de se sentar, ver TV e então corre para a cozinha, precisa comer, mas abre a garrafa de vinho que ficou pela metade, enche a taça, volta pro quarto, senta na cama e divaga entre a razão de que nada muda e a emoção de que um dia ele voltará, mesmo não sendo dele, o outro vai ligar, subir até o andar daquele apartamento, apertar a campanhinha e entrar, porque aquele era o homem que chamava de seu, mesmo sendo de outra, mas seu no que tange o encontro de corpos masculinos e é o que sente quando está junto com aquele que se foi, que é só seu.

Enquanto ele ia, ele decidiu velar. Preferiu o calar a grandes repercussões de sua voz, lacunas no espaço, no tempo... Cansou de o vento levar suas palavras para um lugar distante, mesmo que por dentro uma tempestade o fizesse parecer inundar em suas próprias entranhas. Preferiu afundar em vez de gritar por socorro, dele mesmo e daquele que partia... Aquele que ia, sempre voltava e se achava no direito de questionar. Talvez fosse o fato de ele estar se comportando do modo que ninguém esperava – aquele outro esperava por brigas, por gritos, por choro e ranger de dente. O moço, protagonista de sua história aprendeu a não esperar pelo reconhecimento que vinha do lado de fora, já que o outro nunca seria capaz de enxergar os esforços feitos, a briga intima travada para a harmonização dos fatos. Tornou-se ‘Amélia’ de suas razões, mas claramente que não seria por muito tempo, não para o sempre, pois conta história de que todo carnaval tem seu fim e a folia do forasteiro uma hora tinha que acabar. Ele aprendeu, a simular, enfim, dissimulou.

O outro ia viver aquela chamada ‘sua vida’ e ele ficava, permanecia intacto. Sobrava espaço as suas inconstâncias, que o outro não sabia ser somente sua culpa, pois ele preparava o amor e o outro destruía qualquer possibilidade, qualquer coisa boa. O outro julgava e ele sofria, mas não para sempre. Ele vestia-se e não saia. Perdia a vontade e esperava que o acusador descesse do pedestal e entendesse a humanidade daquele que ficou. Ele fingia, sorria e assim, aquele que foi volta, conta vantagem, estava com os amigos, com os que gostavam muito dele e queriam deixar bem claro, como se ele ali dentro, trancafiado não fosse capaz de gostar mais que aqueles outros estranhos. E o que sobrava para ele? Somente as coisas ruins do outro.

Vez em quando – e ele sabia bem disso -, as pessoas têm por finalidade entrar em outras vidas para plantar, semear e por ventura de um destino qualquer, esquece-se de colher, mas o garoto de temperamentos inconstantes não estava disposto a guardar para sempre os espinhos que fora semeado. De um jeito dolorido, ele estava esperando que os espinhos se afiassem para poder devolver a seu proprietário primeiro. O que não lhe pertencia, deveria voltar e do mesmo jeito que foi dado, sem mais e nem menos, apenas de uma vez.

Ele se transformou... Se arriscou... Nice to meet you too!

Um comentário:

Vanessa Araujo disse...

Amei o sentimento exposto, a descrição de toda a confusão agonizante, a redundância do querer e não querer... puxa, virei fã!
Imaginei cada movimento, consegui visualizar a cena toda. Tocou fundo!
Parabéns!