15 de julho de 2012

Quando não se sabe sambar


E pra que dançar se a vida lhe trouxe a valsa dos pensamentos? Se o mundo lhe mostra a beleza de um samba juntado às belas mulatas da composição literária. E se tendes a impressão de que vai cair, permita-se encontrar o solo das imaginações férteis e invertebradas. Não se sinta a merda do coco do cavalo do antagonista. Sinta, apenas absorva o bailado unido de quem não nasceu para o meio do salão, permaneça nos cantos, nos becos, no escuro e veja o que roda girar; a bela moça da noite a sambar. O bailar é caos e libertação de uns, mas também é o espectador, libertário de suas próprias mazelas. Não aceite o convite para adentrar os meios quando o começo ainda lhe é satisfatória. As moças, todas sambistas de uma vida, podem até rir com sua falta de ginga, mas poupe o riso frouxo por sua queda em desacordo com o ritmo. Nem todos nasceram para sambar, como nem todos morreram para ressuscitar. Metáforas. Anedotas. Neologismos. Quando ela vai para lá e para cá, é sinal de que chegou a sua hora de sentar, pedir a cerveja gelada e consentir a sua total falta de equilíbrio na valsa das belas mulatas, ou quiçá, louras e todo o resto de humanoides que também vão para lá e para cá.

Não estremeça como se quisesse ser o que não é. Sente-se. Peça um Uísque nacional ou aquela bebida vagabunda e sinta a melodia invadir tua alma, coisa presa nesse corpo decadente de quem não aprendeu a rebolar e nem por um pé para trás e outro para frente. Deus não se compadeceu de ti: deu-lhe apenas um pouco de ginga para fugir do óbvio ou não muito obvio, mas te deu a destreza de manter-se calado, parado, quieto quando não se sabe sambar.

O coco nem sempre arrebenta a Sapucaia e nem todo bamba é da periferia e você, pobre humano, vindo das zonas negras do lado B do mundo, não veio a esse mundo para sambar, talvez tenha apenas que assistir e consentir com o balanço desajeitado dos pés-perna-tronco-ombro-cabeça que não veio a essa esfera suada, enfeitada e brilhante de plumas e paetês. Senta-te o rabo na banqueta dura e aplauda. Nem sempre se é o que se quer e nem sempre se pode ser aquilo que não é. Paradoxal mundo do samba. Malditos aqueles que inventaram o samba e trouxeram como bagagem cultural para um mundo que dedilhou outros caminhos: ora o mundo é julgado pelo seu bambear, pelo titubear.

Poetas, não se acanhem quando não souberem sambar como fazem as passistas. Nem elas sabem o que estão fazendo, apenas cumprem o rito passado das gerações. Intelectuais, esqueçam a defesa a seu favor, nem todo bamba é samba e nem todo boêmio tem que passar horas a derivas de um samba antigo. Mundo: nem todo passo é samba, nem todo negro é bamba e nem todo branco é nascido para os salões festivos da velha-guarda! O samba não é para todos que pediram a cerveja, sentados na esquina do futuro ou do passado. O samba é para os sambistas e não para todos que nasceram nessa irremediável Terra-de-Santa-Cruz! Mas, não deixe o samba morrer, pois já dizia o dito que quem não gosta de samba, bom sujeito não é! Mentira, claro, mas que sejamos apenas doente do pé...

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