Sou da geração que
tudo se crítica, tudo se fala, muito se comenta. Minha geração é essa que fala
dos outros com a maior cara de pau sem olhar no espelho e perceber que
escondemos feridas muitas vezes maiores do que aquelas que apontamos. Sou dessa
geração, que julga a futilidade dos outros como se não tivéssemos também alguma
coisa de fútil, de sem graça. Bem vindo a geração fala mais que a boca e faz
menos o que devia fazer.
Nos termos mais práticos,
a minha geração faz parte da corja que julga como se fosse o rei da cocada
preta (ou branca, tanto faz); aponta os defeitos alheios como se fossem os
seres mais perfeitos do mundo; fala mal e na pretensão de ser um pouco mais
sofisticado, diz apenas que comenta sobre algo ou alguém, porém esquece-se da
subjetividade, lembra-se de elevar-se ao grau máximo de pessoa mais desprovida
de futilidade, mas não demora muito a se entregar a tudo aquilo que julgamos,
apontamos os dedos e a nossa arma mais perigosa: a língua.
Fala-se do funk que o
sujeito escuta aos berros dentro dos transportes públicos - que fique claro que
não sou a favor de música alta dentro de ônibus e coisas afins - mas inferniza
os vizinhos do mesmo modo com aquela música de boate que não agrada a vizinha
que é adepta dos sons gospel que por sua vez escuta seus louvores no último e
de certa forma ataca violentamente a vontade de silêncio do vizinho ateu que
vai as ruas fazer protestos e inutilmente ou não, incomoda e viola os
segregados valores pessoais e individuais. No fundo, alguma coisa sempre vai
incomodar as outras e por isso julgaremos fútil.
Julgamos fúteis
aqueles que por algum motivo (e de todo direito seu) prefere a vadiagem à vida
dentro de casa. Falamos sobre a futilidade que está em gastar madrugadas dentro
de casas noturnas ao invés de se estar em casa dormindo, ou lendo um bom livro,
escutando uma boa música: mas quem definiu mesmo o que é bom? Onde esta o
relativo das coisas e o cada um cuidando da sua própria vida?
Atacamos a forma de
viver dos outros que passam horas conversando e se drogando nas esquinas,
julgando-os incapazes e fúteis pela forma de vida que se vive, mas dentro de
casa somos obrigamos a cumprir todos os dias as mesmas coisas. Acordar cedo,
passar o café, limpar a casa, fazer o almoço, lavar a louça, fazer o café da
tarde, jantar, louça e cama. Não estaria aí também a futilidade do homem
contemporâneo que se diz normal e que não vive a futilidade? Lembremo-nos que
apenas abrimos a janela e vemos passar um monte de coisa a nossa frente, mas
não é porque podemos olhar que temos o direito de julgar. Aquele que passa pela
calçada pode também estar julgando aquele que fica na janela observando e
comentando a vida dos outros (as famosas fofoquinhas) como seres mais fúteis,
pois se acostumaram com aquele tipo de atividade e isso é normal? Quem e o que
nos dá o direito de dizer que um ser humano com três, quatro faculdades no
currículo é menos fútil que o cara que não saiu do Ensino Fundamental? E quem
disse que a dona de casa é menos fútil que a garota que trabalha em um prostíbulo?
Futilidade é coisa íntima, interior de cada um. Assim como o brega nos é
inerente, a futilidade faz parte do nosso cotidiano e desse modo, a futilidade
do ser começa em nós, quando julgamos alguém ou alguma coisa por um mero ataque
de aparência ou para simplesmente nos sairmos superiores.
Você que prefere Machado de Assis não é mais ou menos
fútil do que alguém que lê Stephenie
Meyer; você que escuta Chico Buarque
não é melhor que alguém que se acaba ao som de Valesca Popozuda; você que por um acaso vai semanalmente a uma
linda exposição de orquídeas (e que programa mais chato seria esse não?) não é
menos fútil do que aqueles que preferem frequentar as pistas de skates. Somos
da geração que ataca de graça, fala como se fossemos os mais finos, mas nos
enganamos com tudo isso, quando era para sermos da geração do tudo junto e
misturado, pois é isso que somos: um vasto campo de cultura e coisas a se
fazer, porém preferimos perder o tempo a julgar a conhecer; de falar ao invés
de escutar; de sentenciar os outros pela futilidade em vez de futilizar-se em
primeira pessoa do singular, afinal de contas, já diz a expressão de que todo
mundo te um dedinho podre.
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