4 de dezembro de 2012

Entrando para solidão


E o que fazes
- quando acordas?
Abres, levantando as pálpebras
arregalando os olhos
espreguiçando-se entre o lençol
misturando-se a cama
ao colchão cheio de ácaros
- travesseiro úmido
de suor, sonhos, desejos.

O que não fazes
- depois que acordas?
Não reza, não pede benção
ao seu Orixá
despejando-se sobre si
pragas de tu mesmo
estreitando o dia
com o que poderia ser evitado
caso a prece fosse boa.

E depois que fazes
- quando se coloca em pé?
Amaldiçoa-se frente ao espelho
enxergando as bolsas arroxeadas
de olheiras por uma noite
mal ensaiada, revirada
remexida no mesmo colchão
vincos e riscas no rosco
arranhadas pelo tempo.

O que fazes
- ao sair da coxia da noite?
Enfeita-se entre ternos e gravatas
vestindo o vestido, uma saia
E com saia, sai
vai cumprir a sina do dia
desempenhar o seu ofício
moribundo de estacas digitais
onde pousa o dedo a trabalhar.

E aí? O que fazes?
Cumpre a vida, sem mais
e volta mais tarde pra casa
sem mais e pousa-se
sobre o feijão com arroz
liga a TV, dorme.
Já não descansa em paz!

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