20 de dezembro de 2012

Epílogos e finais

O mundo vai acabar e não temos para onde ir, correr e nem se esconder. O mundo não vai acabar, mas ainda assim, não temos para onde ir em nós mesmos, correr em nós, porém nos escondemos de nós mesmos. Acabando ou não o espaço físico, o que ocupamos, a preocupação deve ser mais com a gente do que com os limites da atmosfera. Cada um conta seu jeito de fim de mundo, mas esquecemos de falar sobre o que tem acabado com a nossa capacidade de ser humano e por esse motivo, vim falar um pouco, como li de uma amiga, "... não poderia correr o risco de morrer engasgada com tanta coisa pra falar...”.

Tanta coisa a falar para quem não conheço. Dizer para que não desistam de serem, mesmo que estranhos, mais humanos, mais sensíveis, mais verdadeiros. Que invistam mais na capacidade de se relacionar com quem vale a pena do que com aqueles que só servem de sanguessugas.

Coisas a dizer para os colegas, para esses que aparecem de vez em quando. Dizer o indizível, agradecer pelo pouco tempo que deu e pelo resto do tempo que não apareceu, viveu cada um suas vidas, suas coisas, suas tramoias. Dizer para que apareça, caso o mundo não acabe ou que desapareça se não for para somar, mesmo que momentaneamente.

Muito a falar para os mais chegados, os amigos, os confidentes. Dizer para aqueles que a vida nos permitiu dividir mais o nosso tempo, que fique, que instaure em nós a capacidade de ainda acreditar na humanidade, mesmo que essa humanidade se resuma em duas ou três pessoas. Dizer que conto com eles após o fim do mundo emocional, aonde a destruição vem do lado de dentro para recomeçar, recriar novos objetivos e novas maneiras de enxergar a vida. Dizer aos amigos mais íntimos que fiquem, mas se por algum motivo, tiver que partir, que assim o faço de maneira mais honesta e não minta uma amizade que já não existe mais, pois a gente, de uma anunciação de fim do mundo até a essa outra possível profecia, já vivenciamos mais os casos de abandono do que aconchego; de espera do que da prontidão; de ficar de lado do que da aproximação. Falo sem citar nomes, pois não me interessa os ataques gratuitos, mas falo, digo das coisas que acontecem com todo mundo e que me acontecem. Talvez eu não seja o amigo que os meus precisam ter, mas sei também que tem pessoas que não são do jeito que, mesmo que um pouquinho fossem para mim. Talvez essa seja uma boa coisa do fim do mundo que pode ou não acontecer, nos fazer lembrar o que existe por dentro de nós. Tantas esperas fracassadas, tantos sonhos roubados, tantas vezes que precisávamos de um amigo para aquele momento e não tivemos.

Acredito mais em fim de ciclo do que de mundo. Acredito mais em fim de alguns tipos de situações do que todas de uma só vez, do que sangue, do que gente correndo, tentando fugir de alguma coisa. Penso que seja a fase das enormes dores, dos grandes desesperos, mas não por ataques de meteoros e sim transformações do lado de dentro da gente. Pode até ser que nada acontece nem do lado de fora e nem do lado de dentro. De que o cosmo não influencia em nada a nossa vida e que a terra continue a mesma. Só que vai da gente aproveitar do momento para por fim a situações mal resolvidas, amizades esquecidas, amores que machucam. Vai de cada um de nós e de como encaramos a vida, com ou sem ritos, o momento é pessoal. Faz tempestade num copo d'água quem quiser, faz drama quem puder e permanece em silêncio quem achar que isso seja necessário. Acho que o fim do mundo é pessoal e ninguém tem nada haver com a forma que o outro vai reagir a esse momento. Deixem gritar quem quer gritar; deixe lamentar quem quer lamentar; deixem quietos todos àqueles que preferiram o silêncio para pensar ou simplesmente querem se calar.

Estou acreditando que a anunciação do fim do mundo está mais a favor do homem do que contra ele; momento para antecipar as promessas de ano novo e a partir daí, refletir durante uns dias se tem cabimento ou não e então, começar outra fase, outros 365 dias, outras novas maneiras de encarar a vida.

Quero falar aos primos, as tias e tias, as primas, aos filhos (como se eu tivesse), aos avós, enfim, a todos que por algum motivo foi colocado em um mesmo lugar, cujo nome chamamos de família. Dizer que independente de qualquer coisa, o momento é de mudança. Hora certa para acabar com certas coisas do tipo valorizar mais o laço sanguíneo do que a individualidade do ser. Entender que é na diferença que se faz o grupo mais forte e não onde todo mundo é igual, uma cópia. Que prevaleça, não a voz do patriarca (matriarca), mas a palavra do bom senso, da razão. Que não temos mais tempo de preconceitos e nem dos julgamentos, afinal de contas, no fundo sabemos que ninguém vale assim tanto o feijão que come e nem por isso, vamos deixar de nos vermos ou de cruzarmos os mesmos caminhos aqui na terra (e para os que acreditam, do lado de lá). Que é o momento certo para que só nos intrometermos caso formos ajudar. Julgar e falar, só pra simplesmente sentenciar ou deixar o outro pra baixo, não tornará nenhuma das partes mais evoluída. Momento certo para ser família e não Deus na vida um dos outros.

Momento de dizer aos amantes (entenda amante como o sujeito que ama e não o outro, o usurpador do sentimento) que amem sem medida, sem se preocupar com o dia de amanhã, sempre e cada vez mais. Que aprendam a conversar, que coloquem sim o relacionamento em primeiro lugar em vários momentos e aspectos da vida, senão vamos ficar parecendo novela e nossos namoros, casamentos e coisas do tipo vão se condensar e de fato parecer um dramalhão mexicano. Que compreendamos que o fim do mundo para os relacionamentos, está em colocar os pingos nos "is" e de uma vez por toda, colocar em dia o que tiver que colocar. Acabar de vez com os receios e duvidas. Acabar também com as motivações as desconfianças, tudo bem que esse é um ponto mais frágil da nossa humanidade, porém, não é impossível. Cada casal sabe onde o calo aperta e o que destrói e reconstrói os afetos dados. Hora de dizer que o que tem que acabar, é essa feroz mania de colocar os outros no meio do que é duo, é pra dois (isso se tratando da monogamia). Hora de um olhar para o outro e dizer o que sente e o que não sente; o que quer e o que não quer; de ficar para ser ou de ir embora para deixar de ser. Não temos mais o porquê de vivermos como se encarcerados das coisas negativas, que muitas vezes o outro alimenta em nós e pior, que os outros alimentam sobre nós (o casal).

E se o mundo não acabar de fato? Como será o pós-fim? Permaneceremos os mesmos? Até quando? Não seria melhor aproveitar esse momento para reavaliar nossas escolhas, dar vazão as nossas decisões, dar vida aos sonhos, buscar o que realmente faz algum sentido? Até quando e por que ficar se lamentando do leite que já derramou e até já foi limpo? Pra que continuar a tempestade no copo com a água que já evaporou?

Que usemos o bom senso para todos os fins, todos os recomeços, todas as novas oportunidades que nós mesmos nos damos. Que saibamos "destruir" para "criar". Que tenhamos coragem de recomeçar depois da enxurrada que por motivos particulares, somos capazes de produzir. Que possamos transportar as pedras que no caminho cair e limpar, botar para quarar todas as coisas que de alguma forma, faz parte de nossa história, sem nos preocuparmos com a forma que o outro está vivendo o seu pós fim do mundo. Depois da destruição, as coisas afins tendem a se unir, mas depende de nós e de nossa capacidade de selecionar as coisas, mesmo dispostos a repetir os mesmos erros, não tem com o que se preocupar, apenas aprender com tudo e todos. Um bom fim do mundo a todos, nos vemos por aí, ou não! O mais importante agora, não é tentar correr e sim permanecer e ver o quanto estamos envolvidos com o caos e a bagunça e depois reorganizar, limpar, dar novos ares ao que ficou. E o que vai ficar? Nós e nossa capacidade de sermos humanos (é isso o que somos não é?).

Nenhum comentário: