20 de fevereiro de 2013

Alma de casa

Moro no interior, bem distante da capital e por aqui, não se fala em outra coisa: preciso ir pra cidade grande pra me ajeitar na vida, pra que as coisas melhorem, para que as possibilidades invadam em cheio todas as minhas perspectivas. Talvez, indo para a capital, as coisas melhorem quase 100% e lá, as coisas, dizem que são melhores, as pessoas são mais abertas, nos acolhem mais e com quase absoluta certeza, serei mais feliz e realizado.

Estou a alguns anos na capital. Vim para cá com a ideia de que as coisas por aqui seriam mais fáceis. No começo, me iludi com o emprego que tanto queria e consegui. Não demorei a achar alguém que dividisse um 'ap' e outro alguém que todos os dias me desse carona - salvo os dias de rodizio. A diferença daqui com o interior, é que aqui tudo acontece de modo mais rápido e cansa com a mesma velocidade, talvez esteja na hora de ir para outro estado, tentar a vida num lugar distante, mas que ainda me possibilite a comunicação infinity. É isso, vou para o Sul do meu país, lá o frio é mais intenso, mas eu aguento já me acostumei com o frio humano da capital que meu corpo não levará em conta ao frio climático.

Aqui no Sul, as coisas são lindas. Gosto do clima ameno, dos pubs tupiniquins e das festas universitárias. Aqui, a correia é menos intensa que a capital pela qual passei, mas corre mais que todas as cidades interioranas, está tudo até que bom, mas sinto falta de alguma coisa. As pessoas aqui estão todas se refugiando para a capital de onde eu vim e não me escutam que lá as coisas não são como pensam que são. Todos querem se aventurar, buscar a realização pessoal, dinheiro e festas lotadas; querem os poros contaminados pela poluição e correr da polícia quando uma manifestação acontecer. Frio, chocolate quente, mas sinto saudade de casa, ao menos, na antiga capital, qualquer carência eu pegava um ônibus e em pouco tempo eu já estava passando o final de semana em família. Aqui não é minha casa, não é minha terra e mesmo que eu me sinta a vontade, é lá nas minhas bandas que eu sou mais eu, sem ter que me agasalhar com a imaginação de que tudo passa - saudade não passa.

Chegou a hora de ir para o exterior: Canadá ou Londres? Itália ou Amsterdam? Quero ir para me divertir e estudar um pouco e lá vou eu. Toda a economia que fiz invisto na viagem e na grana para passar uns dois meses tranquilos e depois, me virar, arrumar um empreguinho qualquer, num lugarzinho qualquer. Realizar aquela louca vontade de ralar duro, tirar umas fotos e postar e perceber que venci, que agora estou em outro canto do mundo. Encontro com algumas dúzias de pessoas que veio do meu país, meia dúzia que veio do meu estado, aí a saudade meio que diminui. Vez em quando, ligo a webcam e vejo quem eu deixei lá no interior, converso pelos chats da vida pelos amigos que fiz na capital e troco e-mails com os garotos e garotas do Sul que por algum momento da minha vida, me fizeram sentir 'mais em casa', mesmo me sentindo um peixe fora d'água. Outro dia, fui numa pub em Londres, ou era um bar no Canadá? Já não me lembro de mais, mesmo que tudo aqui seja diferente, é apenas diferente, pois a saudade dói, do Sul, da capital, do meu interior.

Um dia, estava insatisfeito com nada dar certo na minha vida, troquei o interior pela capital, tendo em vista que tudo deu certo, mas me faltava alguma coisa, fui para outro estado, conhecer culturas diferentes, mas não satisfeito, senti que era chegada à outra de pegar o avião e ir mais adiante e estou aqui, em outra parte do mundo, tendo que usar um idioma que conheço bem, mas não é o meu. Sorrir para quem não sabe metade do que já vivi, esconder as lágrimas de quem não sabe profundamente o que sinto e como sinto. Talvez, a mudança é boa, sair, se deslocar traga para nós uma bagagem cultural magnifica, só que a gente faz tudo pensando pelas coisas do lado de fora e esquece que antes de tudo, é a casa da alma que primeiro precisamos transportar a situações mais elevadas. É isso, pegarei o avião de volta para o interior e começar tudo de novo, nem que eu passe novamente pela capital e pelo Sul e venha parar num país distante. Só não quero e não posso me transportar é para longe de mim e do que realmente sou com a doce ideia de que lá longe é que serei alguma coisa de fato, pois o que somos não depende do lado de fora e sim, tudo pelo que se passa, por dentro, a alma de casa.

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