26 de março de 2013

Recalques e confusões

Dizer a verdade ou falar mal de alguém ou alguma coisa que alguém faz, veste ou seja lá o que for virou sinônimo de recalque. Espera aí! É sério isso? É! Desde quando dizer que fulano é ridículo se tornou recalque? Até uns dias atrás, isso era entendido como falar mal, apenas isso, mas hoje não, você, se disser alguma coisa a respeito de alguém, é inveja, é porque no fundo você queria ter ou fazer o que o outro faz. Gente, calma ai. Bem, posso falar por mim. Se eu disser que alguém se veste mal, é porque a meu ver, fulano se veste mal e pronto.

Que mundo é esse que meias verdades se tornou recalque? Aliás, o que é recalque? Vai aí a tradução do dicionário informal: "Pessoa que se sente ameaçada ou insegura e critica os supostos responsáveis por coisas erradas na visão dela. Uma pessoa recalcada tira conclusões equivocadas, baseadas em suposições quando presente uma ameaça contra si e seus valores. O recalque é uma defesa da personalidade, pessoas se recalcam porque se sentem ameaçadas.". Portanto, os seres humanos estão no caminho certo. Recalque é dizer, é falar, é criticar de modo inseguro, mas nem sempre dizemos porque nos sentimos ameaçados; nem sempre falamos a respeito de alguma coisa simplesmente porque incomoda. Às vezes, criticamos porque somos livres o suficiente para gostar ou não das coisas, mas não quer dizer que nos sentimos amedrontados por aqueles que criticamos. Falamos e ponto. Criticamos e ponto.

Pior que está na boca de geral, definições sobre recalque que a gente tem que sentar e rir. Frases de efeito moral atacam os supostos recalcados; pessoas nos apontam na rua e com os olhos nos chamam de recalcados. Nosso crime? Falar demais. Criticar demais. Ir contra um padrão de coisas que a nosso ver, é fútil. Ou vai dizer que você aí não acha que exista alguma coisa fútil pairando pelo ar? Vai dizer que tudo o que se vê é legal e não merece uma alfinetada. Sério que você não acha que alguém te considera fútil e poser? E se alguém te acha o pior dos seres humanos por um acaso é um recalcado? Será? Por que tudo tem que ser padrão? Somos robôs e maquinas para pensar igual, vestir-se igual?

Então, se eu disser meias verdades, algumas raspas e atacar com alguns restos eu sou recalcado? Ok! Eu sou! Se por um acaso eu não gostar de um tipo de cabelo ou alguma roupa eu não passo de recalcado ponto com, tudo bem, assumo, sou recalcado. Somos todos recalcados por não aceitar (bem, não temos que aceitar nada) o jeito que uma pessoa fala, ou se veste. Somos recalcados porque no Facebook, falar de alguém se tem esse sinônimo. Somos recalcados quando falamos mal de quem não vamos com a cara. Sou um recalcado assumido por achar que algumas pessoas deveriam morrer. Morrer? Oi? De recalcado a depreciativo. Está aí outra coisa. Temos que concordar com tudo que os outros fazem? Temos que sorrir quando sentimos vontade de dar uns murros? Temos que abraçar quando a vontade de esganar é maior? Temos que fingir ser amigos quando queremos destilar todo nosso veneno? Sociedade, já chega! Chega de recalcar os recalcados como se o recalque fosse só de quem está se recalcando. Chega de dizer que a pessoa é isso ou aquilo quando ela diz que outra pessoa é aquilo e isso. Há alguns anos atrás, recalque era simplesmente um fenômeno na engenharia que dizia respeito a quando uma edificação sofresse um rebaixamento. E quando falamos de alguém ou alguma coisa, nem sempre é porque estamos nos rebaixando ao nível delas. Coragem!

Quer saber de uma coisa? Recalcado é aquele que recalca os outros. Entenderam? Para não ser taxado de recalcado teremos que andar com uma mordaça e fingir que tudo o tempo todo é bonito? Acho que não é? Então, chega!

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