Às vezes a gente assiste
alguma coisa que toca bem na ferida que mais dói na gente. Talvez essa coisa
que assistimos, é exatamente aquela que um dia a gente disse que não gostava,
que era bobo, mas de repente, você está lá, assistindo. Aquele filme tosco que
fala de um sonho e que não podemos desistir deles e percebemos que é esse mesmo
filme que vai fazer com que percebamos que nossos sonhos foram sufocados porque
resolvemos crescer e não dar mais atenção e nem o pontapé inicial,
simplesmente, esmagamos eles, os sonhos, por simplesmente acharmos que não
precisamos mais deles. Aí você vai assistir aquela série de adolescentes que
fazem de tudo para aparecer e que a todo o momento bate na tecla de que é
importante ir à luta, custe o que custar e nós estamos aqui, suprimidos a
condição de ver a nossa vida passar, sem dar o devido valor. Séries bobinhas
que falam de amor, de sonhos, de conquistas e de derrotas superadas pelo
episódio seguinte.
Quantas e quantas vezes
ainda vamos deixar de lado tudo àquilo que tem valor? Até quando vamos
abandonar os velhos sonhos para outros que não são os nossos, ou que são
aqueles momentâneos, mas que não fazem nem de perto sentido nenhum com o que
somos de verdade?
Sinceramente, algo em mim
dói e isso me incomoda o suficiente para perceber que meus sorrisos não são
mais sinceros e que todas as vezes que digo que estou bem, é lá no fundo que
sei que não estou. Sei que não estou sozinho nessa. Sei que meus amigos também
sentem o que sinto. Sei que cada pessoa que conheço, no fundo, se sente meio
sufocado.
É ruim perceber que não
sou aquilo que sonhei ser quando criança. Tinha em mim, todos os sonhos do
mundo e hoje simplesmente estou desesperado por perceber que não tenho uma
misera porcentagem do que um dia eu quis ter. Cresci, mudei, transformei as
escolhas e não sei para onde ir. Talvez eu tivesse que voltar uns anos atrás e
tentar novamente, mas não dá pra voltar e agora? Começar? Agora? Seria
conveniente? Afinal de contas, os tempos mudaram e mesmo que eu tenha sonhos,
eu não posso conceber o sonho fora de mim como ser humano sozinho. Querendo ou
não, me tornei responsável por quem tenho por perto, então, o que fazer? Não
querer perder quem a gente tem, sejam amigos, seja namorado, seja família. Não
interessa. O tempo passou e a gente angariou coisas, situações, momentos que
não podemos jogar fora ou colocar de lado. Talvez a melhor opção seja colocar
do lado de quem a gente tem, os nossos sonhos, mas aí a gente lembra que os
outros também têm sonhos que foram sufocados e que tem o mesmo direito de
colocar no presente, a força para correr atrás de tudo aquilo que sempre se
quis... E a gente não sabe se vai dar conta dos sonhos...
De repente, você vê todos
os seus dias iguais e pensa que poderia ter sido diferente, mas não sabe como
começar o dia seguinte. Talvez, prometendo que vai fazer tudo o que for
necessário sem esperar por algum reconhecimento, mas no ápice de nossa
humanidade, a noite, quando nos deitamos e antes de dormir, vamos pensar e nos
entristecer profundamente por quebrar a promessa e se doer por não ter sido
notado, ou minimamente sido agradecido por um dia melhor. A gente promete de
dia, tudo aquilo que de noite vai fazer o nosso coração doer. Se quando
acordamos estamos cheios de certezas, ao deitar, as duvidas vão nos torturar
até a morte, mesmo que seja a morte para aquele dia e isso também dói. De não
esperar nada em troca, mas depois, de querer pelo menos que reconheçam o seu
valor.
E voltado àquilo que
disse antes, o de ver alguma coisa que primeiramente é imbecil, mas que ganha
certa verdade em nós, filmes, séries, livros, vida cotidiana alheia tem esse
dom de despertar em nós, as borboletas que fazem de nós casulos. Eu sou um
casulo, mas reconheço que tenho um medo absurdo de deixar com que a lagarta se
rompa e vá ser borboleta onde ela deseja ser e esse é o problema. Sonhos
suprimidos. Vontades sufocadas. Lágrimas contidas. Fracassos engolidos, gole a
gole. Um jeito de ser humano que não é somente o meu, mas o de todo mundo que
conheço. Sim. Generalizo pelo fato de que todo mundo tem lá suas nostalgias e
pensa nos sonhos que se tem num momento da vida e percebe que não chegou lá,
que fracassou, que desistiu antes do tempo. Conheço um número suficiente de
pessoas que se desespera quando o sono vai chegando e nota que não realizou nem
metade do que tinha planejado para viver até aquele momento.
Sei que tem gente de 17
anos que sofre por perceber que os seus sonhos talvez não virem realidade, e
que talvez não entrem na faculdade ou que não farão o curso "x" e sim
o "y". Conheço gente que tem seus 20 e se frustram por não estar mais
afim de seguir a frente aquela graduação ou que ainda não conseguiu seu
primeiro emprego. Conheço pessoas com 23 anos que chora por não conseguir um
emprego melhor ou por começar a perceber que anda meio sozinho por aí e que o
mundo é cruel demais. Conheço gente de 30 que achou que estaria estabilizado na
vida e não está e que corre contra o tempo para conseguir pelo menos manter uma
casa, sustentar os filhos, alimentar os vícios. Sei que tem por aí os
quarentões, cinquentões que voltam a pensar no que poderia ter feito e não fez
e se lamenta, mas continua em frente, tocando o barco porque acredita que não
tem mais o porquê voltar atrás. Sei que tem avozinhos e avozinhas e se recordam
do tempo que teve, dos seus 17, 20, 30, 50 anos e percebem que já era, passou e
agora, é esperar pela partida, com um nó no peito.
Todos têm lá seus sonhos
e isso porque ainda só falei do que a gente sente por perceber que deixamos
passar ou não investimos o suficiente para concretizar algo que nos era a
melhor parte da vida, os sonhos. Não falei do amor, que é outra coisa que, seja
lá com 18 ou com 90 anos, também dá um nó no peito e entorpece a alma. Por quê?
Porque quis falar do que poderíamos ter feito ou sido na vida e não fomos, do
mais, podemos voltar os pontos e trocar, ou simplesmente encaixar o amor, seja
no texto, ou em todos os momentos da vida, porque no fundo, vai ser basicamente
a mesma coisa e vai doer e a gente vai lembrar, antes de deitar, que poderia
ter sido diferente e não foi e que no outro dia, vamos sufocar tudo e agir como
se nada em nós, estivesse sangrando e sangrando muito!
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