6 de agosto de 2013

Crônica atemporal

Às vezes a gente assiste alguma coisa que toca bem na ferida que mais dói na gente. Talvez essa coisa que assistimos, é exatamente aquela que um dia a gente disse que não gostava, que era bobo, mas de repente, você está lá, assistindo. Aquele filme tosco que fala de um sonho e que não podemos desistir deles e percebemos que é esse mesmo filme que vai fazer com que percebamos que nossos sonhos foram sufocados porque resolvemos crescer e não dar mais atenção e nem o pontapé inicial, simplesmente, esmagamos eles, os sonhos, por simplesmente acharmos que não precisamos mais deles. Aí você vai assistir aquela série de adolescentes que fazem de tudo para aparecer e que a todo o momento bate na tecla de que é importante ir à luta, custe o que custar e nós estamos aqui, suprimidos a condição de ver a nossa vida passar, sem dar o devido valor. Séries bobinhas que falam de amor, de sonhos, de conquistas e de derrotas superadas pelo episódio seguinte.

Quantas e quantas vezes ainda vamos deixar de lado tudo àquilo que tem valor? Até quando vamos abandonar os velhos sonhos para outros que não são os nossos, ou que são aqueles momentâneos, mas que não fazem nem de perto sentido nenhum com o que somos de verdade?

Sinceramente, algo em mim dói e isso me incomoda o suficiente para perceber que meus sorrisos não são mais sinceros e que todas as vezes que digo que estou bem, é lá no fundo que sei que não estou. Sei que não estou sozinho nessa. Sei que meus amigos também sentem o que sinto. Sei que cada pessoa que conheço, no fundo, se sente meio sufocado.

É ruim perceber que não sou aquilo que sonhei ser quando criança. Tinha em mim, todos os sonhos do mundo e hoje simplesmente estou desesperado por perceber que não tenho uma misera porcentagem do que um dia eu quis ter. Cresci, mudei, transformei as escolhas e não sei para onde ir. Talvez eu tivesse que voltar uns anos atrás e tentar novamente, mas não dá pra voltar e agora? Começar? Agora? Seria conveniente? Afinal de contas, os tempos mudaram e mesmo que eu tenha sonhos, eu não posso conceber o sonho fora de mim como ser humano sozinho. Querendo ou não, me tornei responsável por quem tenho por perto, então, o que fazer? Não querer perder quem a gente tem, sejam amigos, seja namorado, seja família. Não interessa. O tempo passou e a gente angariou coisas, situações, momentos que não podemos jogar fora ou colocar de lado. Talvez a melhor opção seja colocar do lado de quem a gente tem, os nossos sonhos, mas aí a gente lembra que os outros também têm sonhos que foram sufocados e que tem o mesmo direito de colocar no presente, a força para correr atrás de tudo aquilo que sempre se quis... E a gente não sabe se vai dar conta dos sonhos...

De repente, você vê todos os seus dias iguais e pensa que poderia ter sido diferente, mas não sabe como começar o dia seguinte. Talvez, prometendo que vai fazer tudo o que for necessário sem esperar por algum reconhecimento, mas no ápice de nossa humanidade, a noite, quando nos deitamos e antes de dormir, vamos pensar e nos entristecer profundamente por quebrar a promessa e se doer por não ter sido notado, ou minimamente sido agradecido por um dia melhor. A gente promete de dia, tudo aquilo que de noite vai fazer o nosso coração doer. Se quando acordamos estamos cheios de certezas, ao deitar, as duvidas vão nos torturar até a morte, mesmo que seja a morte para aquele dia e isso também dói. De não esperar nada em troca, mas depois, de querer pelo menos que reconheçam o seu valor.

E voltado àquilo que disse antes, o de ver alguma coisa que primeiramente é imbecil, mas que ganha certa verdade em nós, filmes, séries, livros, vida cotidiana alheia tem esse dom de despertar em nós, as borboletas que fazem de nós casulos. Eu sou um casulo, mas reconheço que tenho um medo absurdo de deixar com que a lagarta se rompa e vá ser borboleta onde ela deseja ser e esse é o problema. Sonhos suprimidos. Vontades sufocadas. Lágrimas contidas. Fracassos engolidos, gole a gole. Um jeito de ser humano que não é somente o meu, mas o de todo mundo que conheço. Sim. Generalizo pelo fato de que todo mundo tem lá suas nostalgias e pensa nos sonhos que se tem num momento da vida e percebe que não chegou lá, que fracassou, que desistiu antes do tempo. Conheço um número suficiente de pessoas que se desespera quando o sono vai chegando e nota que não realizou nem metade do que tinha planejado para viver até aquele momento.

Sei que tem gente de 17 anos que sofre por perceber que os seus sonhos talvez não virem realidade, e que talvez não entrem na faculdade ou que não farão o curso "x" e sim o "y". Conheço gente que tem seus 20 e se frustram por não estar mais afim de seguir a frente aquela graduação ou que ainda não conseguiu seu primeiro emprego. Conheço pessoas com 23 anos que chora por não conseguir um emprego melhor ou por começar a perceber que anda meio sozinho por aí e que o mundo é cruel demais. Conheço gente de 30 que achou que estaria estabilizado na vida e não está e que corre contra o tempo para conseguir pelo menos manter uma casa, sustentar os filhos, alimentar os vícios. Sei que tem por aí os quarentões, cinquentões que voltam a pensar no que poderia ter feito e não fez e se lamenta, mas continua em frente, tocando o barco porque acredita que não tem mais o porquê voltar atrás. Sei que tem avozinhos e avozinhas e se recordam do tempo que teve, dos seus 17, 20, 30, 50 anos e percebem que já era, passou e agora, é esperar pela partida, com um nó no peito.

Todos têm lá seus sonhos e isso porque ainda só falei do que a gente sente por perceber que deixamos passar ou não investimos o suficiente para concretizar algo que nos era a melhor parte da vida, os sonhos. Não falei do amor, que é outra coisa que, seja lá com 18 ou com 90 anos, também dá um nó no peito e entorpece a alma. Por quê? Porque quis falar do que poderíamos ter feito ou sido na vida e não fomos, do mais, podemos voltar os pontos e trocar, ou simplesmente encaixar o amor, seja no texto, ou em todos os momentos da vida, porque no fundo, vai ser basicamente a mesma coisa e vai doer e a gente vai lembrar, antes de deitar, que poderia ter sido diferente e não foi e que no outro dia, vamos sufocar tudo e agir como se nada em nós, estivesse sangrando e sangrando muito!

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